Por: Thiago Leal

Sua experiência nesse esporte lhe renderam o apelido que intitula este artigo: O Professor. Igor Larionov fez história no gelo, devido à sua habilidade, e fora dele, sendo um dos primeiros jogadores soviéticos a quebrar a barreira econômica comunista e, numa Guerra Fria praticamente perdida, mudar para a América para jogar hóquei no gelo naquele que era o maior país-rival da União Soviética. Considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, Larionov receberá neste 10 de novembro uma honraria que devia lhe ter sido imposta quatro anos atrás, quando jogou sua última partida pela NHL: sua introdução ao Salão da Fama do Hóquei no Gelo. Igor será o quinto jogador russo a fazer parte da patota reservada apenas aos melhores jogadores de hóquei. Antes dele, entraram Slava Fetisov, Sweeney Schriner, canadense nascido na Rússia, e dois que nunca jogaram na NHL: Vladislav Tretiak, melhor goleiro de todos os tempos, e Valeri Kharlamov.

Ainda quando aluno...
Quando Larionov chegou à NHL, em 1989, já aos 29 anos de idade, já era considerado por muitos um dos maiores jogadores de todos os tempos, mesmo sem ter jogado na Liga — o que, para muita gente, é pré-requisito para ser um atleta histórico. Seu recrutamento havia acontecido quatro anos antes, em 1985, pelo Vancouver Canucks, como 214ª escolha geral. Igor havia começado sua carreira profissional jogando pelo Khimik Voskresensk, mas sua carreira engrenou mesmo com a poderosa máquina militar do CSKA Moscou. O que assombrava é que não era nem um pouco difícil para Larionov manter médias que chegavam a um ponto por jogo ao longo das temporadas. O trabalho nos clubes refletia na Seleção Soviética, onde foi medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sarajevo e Calgary, no Canadá, um ano antes de tornar-se jogador da NHL, dando à fanática torcida canadense uma prévia do que podia fazer em rinques de tamanho reduzido.

Mais um atleta brilhante formado por Viktor Tikhonov, o aluno acabou brigando com seu "professor". Motivo? Líder no rinque, Larionov representava seus colegas de time também nos bastidores, forçando a barra para que a União Soviética fosse aberta à transferência dos jogadores ao mercado norte-americano. Embora tivesse ao seu lado o apoio de Fetisov, Larionov foi visto como traidor por Tikhonov e expulso da equipe soviética. Mas veio para América e trouxe consigo a Green Unit, "linha" informal que montava com Fetisov e Alexei Kasatonov, dois defensores com fortes características ofensivas. E a Unidade Verde militar quebrou a cortina de ferro. A América viria a conhecer hóquei de verdade.

Larionov também integrava outra linha histórica, conhecida como KLM, ao lado de Vladimir Krutov e Sergei Makarov. E os Canucks, dois anos depois de Igor, recrutaram também Krutov. A América, pouco a pouco era invadida pelos atletas vermelhos. Krutov e Laionov estrearam juntos na NHL. Makarov havia sido recrutado dois anos antes, mas só partiu para a NHL junto com Larionov.

Green Unit, Linha KLM... o que mais Larionov agregou à NHL? Ah, sim... Larionov foi influente no recrutamento daquele menino... como era mesmo o nome? Ah, Pavel Bure. Trouxe ele também para Vancouver — e futuramente ele seria o melhor jogador da história da franquia.

Já quando Professor...
Em seus primeiros anos na NHL, a Sovintersport, federação de esportes da União Soviética, recebia parte do dinheiro que os Canucks pagava ao jogador. Essa cláusula foi fundamental para que Larionov e os demais russos fossem transferidos para a América. Por isso, Larionov escolheu não renovar seu contrato com os Canucks. Jogou uma temporada pelo Lugano, da Suíça, e voltou à NHL para jogar ao lado de Makarov pelo San Jose Sharks.

Mas depois de fazer todo estrondoso sucesso nos bastidores e nos rinques, Larionov precisava provar que era um jogador que não devia nada a Wayne Gretzky e Mario Lemieux. Precisava de títulos. E, como membro da Green Unit e da KLM, mais uma vez Igor formou com colegas russos uma linha matadora: o Russian Five, ou quinteto russo. Trocado pelos Sharks com o Detroit Red Wings, Larionov reencontrou Fetisov e, com Sergei Fedorov, Vyacheslav Kozlov, e Vladimir Konstantinov, foi um dos principais responsáveis pela histórica Copa Stanley vinda após 42 anos para a Cidade do Hóquei.

Vale lembrar que, nessa temporada, Larionov começou a briga que iniciou de fato o Bloodbath, quando revidou um ataque covarde de Peter Forsberg — o que não é do feitio do grande jogador sueco. Foi com Larionov e Forsberg que acabamos tendo McCarty, Lemieux e a famosa briga sangrenta daquela noite. Ray Scapinello, auxiliar que também terá seu nome no Salão da Fama em 10 de novembro, estava presente.

A primeira passagem do Professor por Detroit terminou com cinco temporadas e duas Copas Stanley. Jogou um pequeno pedaço da temporada 2000-01 pelo Florida Panthers, ao lado de Bure, e retornou a Detroit para, na temporada seguinte, conquistar mais uma Copa Stanley.

No total, foram 644 pontos em 15 temporadas. Já na casa dos 44 anos, Larionov disputou sua última temporada na NHL com o New Jersey Devils.

Pontos, temporadas, Copas... uma breve olhada na carreira que Igor Larionov fez. O que isso significa perto da briga pela liberação dos jogadores soviéticos? Para trazer para a América gente como Fetisov, Kasatonov, Krutov, Makarov, Bure... Larionov praticamente reconstruiu o hóquei na América.

Esse é o melhor Professor que esse esporte já teve.

Thiago Leal admira todos os jogadores russos, o melhor país praticante de hóquei no gelo da história.
Ivan Sekretarev/AP
Vladimir Krutov, Vyacheslav Fetisov, Igor Larionov, Alexei Kasatonov e Sergei Makarov. Aqui estão a Linha KLM e a Green Unit, as duas melhores formações que o hóquei no gelo já viu. E Larionov era parte de ambas.
(09/12/2006)
Arquivo TheSlot.com.br
Larionov comemora: mais uma Copa Stanley para os Red Wings..
Ryan Remiorz/AP
A histórica linha dos Cinco Russos.
(09/12/2006)
Miles Nadal/HHOF
Pela União Soviética, na Canada Cup, Larionov marca em Dominik Hasek.
(02/09/1984)
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Página publicada em 5 de novembro de 2008.