Por: Marcelo Constantino

Em 30 de dezembro de 2005 acontecia uma das trocas mais bombásticas dos últimos tempos na NHL. O San Jose Sharks enviava Marco Sturm, Brad Stuart e Wayne Primeau para o Boston Bruins, que mandava Joe Thornton de volta.

Prato cheio para a imprensa, a troca foi devassada pormenorizadamente. Não apenas naquele momento, mas nos meses seguintes. Nas temporadas seguintes também. Este próprio que vos escreve tocou neste assunto mais de uma vez aqui na TheSlot.com.br, sempre com viés favorável aos Sharks. Na minha visão, Thornton valia mais que os três jogadores. Para mim, Thornton é desses jogadores diferenciados, que não se negocia. Se você consegue ter um, carrega pra sempre. Ou até que a vida os separe.

Minha visão mudou? Sim. Não que agora eu entenda que os Bruins levaram a melhor, longe disso. Eu ainda prefiro Thornton aos três. Se eu fosse gerente dos Sharks, meu arrependimento seria zero. Se eu fosse gerente dos Bruins, não teria trocado. Pouco tempo depois de negociado, Thornton foi MVP da NHL, levando o troféu Hart pra casa. Liderou ou esteve no topo da liga em alguns quesitos ofensivos (assistências e pontos essencialmente). Se eu tenho um jogador assim no elenco, eu não negocio.

Mas reconheço que a troca, atualmente, revela-se benéfica também ao Boston. E muito. E não exatamente pelos três que vieram em retorno, mas sobretudo por outros dois que chegaram logo a seguir.

Logo depois da troca, a gerência — talvez ressentida do ato? - decidiu que era hora de abrir a carteira. Afinal, havia uma leva de torcedores que tinham Thornton como ídolo local. Ídolo que, no auge da carreira, acabara de ser negociado. Para a temporada seguinte a gerência contratou Marc Savard e Zdeno Chara.

Savard é daqueles jogadores que passaram a carreira sendo esculhambados, mas sempre produzindo. Produzindo muito, aliás. Toda vez que era criticado, ou por ser muito leve, ou fraco, ou pelo supostamente deficiente jogo defensivo, Savard respondia com pontos. Praticamente um por jogo em média.

Chara já é outra história, porque trata-se talvez do melhor defensor de estilo "stay-at-home" (ma non troppo...) da NHL. Grande demais, e ainda assim ágil demais para tanta grandeza, Chara chegou para tornar-se capitão da equipe e líder da linha azul.

Mas o que Savard e Chara têm a ver com a saída de Thornton exatamente, além da suposta tentativa da gerência, de arrefecer os ânimos da torcida? O ponto é que, sem a saída de Thornton, não haveria grana suficiente para ambos.

E sobre os três que vieram, Sturm, Stuart e Primeau?

Marco Sturm vem progressivamente melhorando desde que chegou aos Bruins. Nos Sharks ele era um prospecto em alta conta, e já produzia bem, além de ser muito bom defensivamente. Nos Bruins ele bateu o recorde pessoal de pontos numa temporada, a passada, com 56 pontos. Na atual temporada, Sturm infelizmente contundiu seriamente o joelho em dezembro. Uma cirurgia será necessária e é improvável que o jogador volte a atuar nesta temporada. O que provavelmente levará a gerência a buscar alguma reposição no mercado, mas isso já é outra história.

Stuart e Primeau foram negociados pouco mais de um ano depois para o Calgary Flames, que retornou Andrew Ference e Chuck Kobasew.

Primeau não era e segue não sendo grande coisa. Stuart não se firmou no time e ainda rodou por Los Angeles até sagrar-se campeão com o Detroit Red Wings em 2008. Parecendo finalmente ter se firmado num time, preferiu renovar com o campeão, mesmo com grandes possibilidades de ganhar mais no mercado. De qualquer forma, os tempos dele com os Bruins não foram exatamente bons.

Já Ference e Kobasew funcionaram em Boston.

Kobasew fez a melhor temporada de sua carreira em 2007-08, com 39 pontos. Foi sua primeira temporada inteira com o time. Atualmente atuando na potente linha principal da equipe — ao lado de Savard e Phil Kessel —, vai ser difícil de não produzir mais. Kobasew é o carregador de piano da linha.

Ference deve retornar em breve ao time, depois de perder boa parte da temporada até aqui por conta de uma fratura na tíbia em novembro passado. Defensor da segunda linha do time, ele é daqueles que aparecem pouco ofensivamente, mas que fazem um bom trabalho atrás da linha azul. Vinha fazendo talvez sua melhor temporada até então.

E quanto a Thornton nos Sharks? Recorde de assistências, pontos, mais/menos, Troféu Art Ross, Troféu Hart. Melhor que isso, só mesmo a Copa Stanley — que ainda segue viagem enquanto o time morre na praia sucessivamente.

Marcelo Constantino sempre recomenda faroestes: no momento, Appaloosa.

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Página publicada em 14 de janeiro de 2009.