Por: Humberto Fernandes

Ao final do jogo, os times, perfilados no centro do gelo, trocaram o tradicional aperto de mãos que caracteriza o final de uma série de playoffs da Copa Stanley. Exceto pelo fato de que o ano estava apenas começando e que os playoffs estavam a quase cinco meses de distância.

Era o Clássico de Inverno, o ponto mais alto da temporada regular da NHL, disputado ao ar livre em um rinque de hóquei montado no Wrigley Field, o campo de beisebol do Chicago Cubs.

Não havia melhor desfecho para o clássico que o cumprimento entre os dois times que mais se enfrentaram na história da liga e que protagonizaram o jogo mais esperado do ano.

Foram dois grandes períodos de hóquei. O primeiro, dominado pelo Chicago Blackhawks, que abriu 3-1 no placar, e o segundo, em que o Detroit Red Wings marcou três gols e virou o resultado. Os últimos 20 minutos foram de realização da supremacia dos atuais campeões da Copa Stanley sobre o grande time de Chicago que definitivamente renasceu nesta temporada.

Em qualquer vídeo dos melhores momentos do jogo não pode faltar:
1) o tranco de Brent Seabrook que arremessou Dan Cleary no banco de reservas dos Blackhawks, penalizando o Detroit por homens demais no gelo quando Cleary voltou a ver a luz do sol; e
2) o gol de Pavel Datsyuk, conduzindo o disco desde o centro do gelo e passando por dois defensores antes de "driblar" o goleiro Cristobal Huet e finalizar.

Diziam que as condições da natureza e do gelo impediriam a realização de jogadas como essa e manteriam a baixa média de gols dos jogos ao ar livre, mas Blackhawks e Red Wings voavam como se disputassem um jogo de playoffs. E talvez Datsyuk seja superior ao tempo e ao vento. A propósito, a temperatura durante o jogo estava em -0,5º C

O mínimo que se pode dizer de Ty Conklin é que ele tem sorte. O goleiro estava no lugar certo e na hora certa para se tornar o único jogador a disputar os três jogos ao ar livre da história da NHL.

Conklin foi titular pelo Edmonton Oilers em 2003 contra o Montreal Canadiens e pelo Pittsburgh Penguins no ano passado contra o Buffalo Sabres. Nas duas vezes o goleiro titular de sua equipe estava contundido e ele assumiu o posto.

Desta vez, Chris Osgood recuperava-se de contusão, completando o "hat trick" de jogos ao ar livre de Conklin.

Os Blackhawks ameaçavam a liderança da Divisão Central na semana do Clássico de Inverno, em sequência de nove vitórias, apenas para ver o Detroit vencer dois confrontos diretos e consolidar sua posição de líder.

Mas os torcedores dos Hawks, se não estão felizes com as derrotas perante o maior rival, estão orgulhosos com o renascimento da franquia, que aos poucos recupera o respeito que sua tradição merece.

É o time de Patrick Kane e Jonathan Toews, dois garotos de 20 anos de idade e desde já entre os melhores atacantes da liga, e de um excelente grupo de jovens defensores liderado por Duncan Keith. O Chicago é um dos times que mais evoluiu da temporada passada para a atual e, ao que tudo indica, continuará sua evolução.

Somente um evento como o Clássico de Inverno faria com que a história de um taco roubado ganhasse repercussão nacional.

Após o jogo, o jovem Kalan Plew, de 14 anos, correu até o local onde os jogadores dos Red Wings deixavam o gelo na esperança de tocar as mãos de alguns dos seus ídolos. Henrik Zetterberg viu o garoto e presenteou-lhe com seu taco. Kalan, quando saía do estádio, foi abordado por um homem trajando jaqueta do Clássico de Inverno que o proibiu de manter a posse do taco sem a supervisão de um adulto. O homem tomou-lhe o taco e desapareceu.

Meia-hora depois, Robert Pappert, um dentista da Carolina do Norte que foi ao jogo com sua esposa, estava no banheiro quando viu um homem com um taco usado no jogo, de Zetterberg e com o número 40. Robert, então, comprou o souvenir por cem dólares.

Dias mais tarde, Robert viu na internet o assunto do taco roubado e percebeu que era justamente o seu, então entrou em contato com a imprensa para localizar Kalan e devolver seu presente.

Do ponto de vista comercial, o Clássico de Inverno é um evento que rende muito dinheiro para o time da casa, para a NHL e para as emissoras de televisão.

Segundo Gary Bettman, vários novos patrocinadores se interessaram especificamente por este jogo, disputado em uma cidade até então dominada por outros esportes, onde não se falava de outro assunto senão a apresentação ao ar livre dos Blackhawks.

O status do evento encareceu o preço dos ingressos, mais caros do que o valor de qualquer outro jogo no United Center, porém a demanda foi muito além da capacidade do Wrigley Field. Assistiram ao jogo 40.818 espectadores, com centenas mais ao redor do campo e outros 200 mil que não foram contemplados no sorteio para a compra de ingressos.

A televisão, por sua vez, comemorou a audiência do evento, a maior nos Estados Unidos em 34 anos para um jogo de temporada regular.

O Clássico de Inverno é o evento definitivo para a NHL atrair a atenção do público norte-americano. É por isso que nos próximos três ou quatro anos os Estados Unidos serão a sede do jogo, provavelmente em grandes mercados, como New York, Boston ou Philadelphia.

Humberto Fernandes assistiu ao Clássico de Inverno, o único jogo que ele fazia questão absoluta de ver antes dos playoffs.
Dilip Vishwanat/Getty Images
O sol aquece o cenário e compõe a atmosfera do belíssimo Clássico de Inverno.
(01/01/2009)
Jamie Squire/Getty Images
Os vencedores do Clássico de Inverno comemoram mais um gol, com a paisagem de Chicago ao fundo.
(01/01/2009)
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Página publicada em 14 de janeiro de 2009.