Por: Eduardo Costa

Tudo conspirou a favor. Até mesmo o tempo, que mesmo fazendo jus ao nome do evento, foi apenas o tempero, e não o ingrediente principal, como aconteceu no Commonwealth Stadium, em 2003, e há um ano, no Ralph Wilson Stadium.

Usando esse último como referência, vimos em Buffalo uma festa nas tribunas. A expectativa não apenas dos torcedores dos Sabres e dos Penguins presentes, mas de todo torcedor de hóquei que se prezasse foi amplamente correspondida. A massiva exposição do evento e seu desfecho midiático ideal só fizeram bem à liga. Dentro do gelo o produto não foi dos melhores. A quantidade de neve que caía, em especial no terceiro período, tornou tudo muito instintivo para os jogadores.

No Wrigley Field vimos hóquei. Ao contrário de Jason Pominville, Thomas Vanek e Sidney Crosby, os atletas do Chicago Blackhawks e do Detroit Red Wings tiveram, graças a condições climáticas bem mais favoráveis, a chance de apresentar um produto bem mais vistoso.

Outro ponto favorável foi a escolha dos combatentes. Duas equipes originais. O atual campeão contra uma equipe que vem reconquistando seu espaço na NHL. Os Blackhawks ainda eram Black Hawks e os Red Wings ainda eram Cougars quando se enfrentaram pela primeira vez em 24 de novembro de 1926. Mais 769 encontros oficiais entre eles, e chegamos ao Clássico de Inverno.

Os Blackhawks, que vêm buscando resgatar os fãs de hóquei existentes na terceira região metropolitana mais populosa dos Estados Unidos, foram perfeitos nos bastidores. Os grande ídolos do passado como Stan Mikita, Tony Esposito, Bobby Hull e Denis Savard dividiam as lentes das câmeras com gente como Ferguson Jenkins, Ryne Sandberg e Billy Williams, antigas estrelas do Chicago Cubs, time de beisebol dono do pedaço. Imagens das jóias atuais Jonathan Toews e Patrick Kane foram espalhadas pela cidade, promovendo ainda mais o evento.

Entre tanta festa, sobrou bronca para o homem que não fazia questão de ver sua equipe ocupando um lugar de destaque. E as palavras de sabedoria partiram de quem viveu bem a rivalidade. Ted Lindsay, que era conhecido como "O terrível" em sua época de jogador, e que atuou em ambos os times, dedicou boas e más impressões sobre dois membros da família Wirtz, a proprietária dos Blackhawks.

"Essa é uma grande cidade de hóquei," Lindsay disse. "Estou realmente feliz em ver o que o jovem Wirtz tem feito desde que seu pai faleceu. Não ter os jogos na televisão era estupidez. É a TV que promove seu produto. [Bill Wirtz] era um obstinado, mas seu filho tem cérebro e fez um grande trabalho."

O velho Bill Wirtz se reviraria na tumba se soubesse que o confronto ao ar livre se tornou o jogo de temporada regular com maior audiência televisiva nos Estados Unidos em 34 anos.

Apesar de alguns deslizes, como o contrato obeso para Cristobal Huet e a tenra demissão de Savard, é preciso elogiar mesmo Rocky Wirtz. Sua equipe caminha bem na temporada. Mas um dos desejos não secretos da organização é desafiar a hegemonia dos Red Wings na Divisão Central. Na última temporada Chicago foi uma pedra no patim do time de Michigan, levando a melhor na série.

Para essa temporada era esperado ainda mais dificuldade para os Red Wings no confronto direto. Apesar de dois dos três jogos entre eles anteriores ao Clássico de Inverno terem sido bem equilibrados, todos terminaram com vitória para o time de Mike Babcock. Os dois primeiros viram os Hawks desperdiçarem boas vantagens.

O último foi disputado menos de 48 horas antes do CI. Na oportunidade Chicago vinha de uma seqüência incrível de vitórias que o colocava a poucos pontos de Detroit. Ty Conklin não deixou passar nada e o 4-0 restabeleceu a ordem na divisão. O mesmo Conklin que disputaria seu terceiro jogo ao ar livre de três possíveis. Uma estatística tão conhecida quanto incrível.

Se a partida se resumisse ao primeiro período, teria sido perfeita para o torcedor local. Brent Seabrook fazendo Dan Cleary voar para o banco dos Blackhawks e um placar de 3-1. No gelo um clima de pós-temporada. Mas tudo mudaria no segundo período.

Infelizmente para Joel Quenneville os 40 minutos restantes foram uma classe de hóquei dada pelos comandados de Mike Babcock. Jiri Hudler, um pequeno tcheco com estrela em jogos importantes marcou duas vezes. O 3-3 durou até o atual maior algoz de Chicago entrar em ação. Pavel Datsyuk pode não receber a atenção que merece por uma parte do planeta hóquei, mas isso não importa, ele continuará fazendo o que fez com a defesa dos Blackhawks. Como uma flecha passou por dois defensores antes de bater Huet. A competitividade acabava ali. Os Wings não mais olhariam para trás.

"Eles são os melhores da liga, os campeões da Copa Stanley. Nós temos que pisar nos pescoços deles e matar a chance de uma reação quando temos a chance."

Essas palavras de Seabrook, com alto teor de verdade, não foram seguidas por seus companheiros. Não tiveram o instinto assassino para matar a temível presa quando tiveram a oportunidade. Cinco gols não respondidos depois e a quarta derrota era uma realidade ruim de ser digerida.

Na coletiva pós-jogo era visível que a festa ficara incompleta com a derrota por 6-4. Nas tribunas, entre os quase 41 mil presentes, havia mais conformismo, mas também não disfarçaram que as seguidas vitórias dos rivais incomodam bastante.

E esse dessabor mostra que os Blackhawks estão no caminho certo. Nos últimos dez anos a torcida dos Red Wings sempre tomava o United Center de assalto, mas agora os velhos cantos ofensivos a Detroit estão de volta. E isso só pode significar uma coisa: os Blackhawks também voltaram.

Até mesmo Bettman merece elogios — alguma vez teria que acontecer. O comissário sempre bancou a idéia do jogo ao ar livre e a partida já se transformou na maior data da temporada regular, deixando a milhas de distância o cada vez mais insosso e injusto Jogo das Estrelas.

Eduardo Costa gostaria de ver os Blackhawks usarem sua camisa "vintage" mais vezes na temporada.
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Página publicada em 14 de janeiro de 2009.