Por: Alexandre Giesbrecht
Colocar quase 41 mil pessoas para assistir a um jogo de hóquei no gelo é o equivalente àqueles bons tempos em que se levava mais de 100 mil pessoas ao Morumbi, ao Maracanã ou ao Mineirão para assistir a um clássico. Então, apropriadamente, o evento ao ar livre que a NHL criou é chamado de Clássico de Inverno. É claro que os preços nem se comparam: naquela época, o ingresso aqui no Brasil custava o que equivalente a alguns poucos reais. Já o preço de cada ingresso para o Clássico de Inverno beirou o preço inflacionado de um ingresso atual — multiplicado por algumas dezenas.

Mas quem pôde pagar tal preço sem dúvida não se arrependeu. É difícil arranjar tanta diversão vestindo tantas roupas. E, mesmo nos lugares em que era necessário um par de binóculos para enxergar o gelo, compensou só a visão de algo impossível de descrever sem as fotos que acompanham esta matéria. Depois de futebol americano, boxe, futebol, cestobol, esqui, até rodeio e, claro, beisebol ocuparem o Wrigley Field, chegava a vez do esporte que a nós mais interessa. Faltou só a neve caindo, que, ao contrário do ano passado, não deu o ar da graça.

Mesmo para os jogadores o cenário não era tecnicamente perfeito. A chance de que fizesse sol no dia do jogo preocupava muitos deles, que no treino do dia anterior perceberam o que o forte reflexo faz no gelo. Ainda assim, não se ouvia reclamações. Pelo contrário. Adam Burish, atacante dos Blackhawks, pouco ligava para quaisquer eventuais problemas: "Quem liga para o estado do gelo? Quem liga para a previsão do tempo? O que importa é esta oportunidade, o jogo, a diversão e algumas memórias que você vai guardar por muito tempo. Não quero saber se fará -23° ou 16°; vai ser muito legal!"

Se um jogo ao ar livre já é legal, fica ainda mais com a atmosfera retrô que cercou os dois últimos. No caso do deste ano, a nostalgia não ficou limitada apenas aos uniformes — como sempre, espetaculares —. Afinal, quando foi a última vez que você viu os Hawks com um time decente no gelo? Fez lembrar velhos tempos, que pareciam tão distantes quanto a última vez em que o time ganhou a Copa Stanley, no longínquo ano de 1961.

É claro que o resultado teve um quê de déjà-vu, com a vitória dos Wings de virada por 6-4. Mas o jogo foi como se marcasse a volta do time de Chicago, atormentado por anos e anos de Bill Wirtz. Brent Seabrook, por exemplo, já no primeiro período começou a dar o tom do jogo com um tranco em Dan Cleary contra o banco dos Hawks. Sim, temos de novo uma rivalidade na Divisão Central.

Não que a contenda já seja parelha. Ainda não é, e os cinco gols seguidos do Detroit entre o segundo e o terceiro períodos dão uma noção disso. "É preciso um jogo perfeito para derrotar esses caras", lamentou o defensor dos Hawks Brian Campbell. O primeiro período do Chicago foi o que mais se aproximou disso, como o lance em que Kris Versteeg deu um belo passe de backhand para Martin Havlat, certamente uma retribuição do passe de Havlat que Versteeg tinha usado para abrir o placar alguns minutos antes. Havlat não desperdiçou e fez 2-1. O primeiro período terminaria com 3-1 para os Hawks.

No segundo período, os Wings melhoraram e começaram a marcar mais, o que gerou várias roubadas de disco. A resistência dos Hawks diminuía a cada gol adversário, junto com o barulho que a torcida fazia. E no mesmo estádio onde Steve Bartman supostamente ajudou a construir uma virada o Detroit criou a sua, sem ajuda externa. Virada essa que recebeu um ponto de exclamação no terceiro período, com dois gols em 17 segundos.

Apesar de boa parte dos torcedores ter deixado o estádio insatisfeita, dois sentimentos eram predominantes: a memória de uma tarde de inverno que certamente não serão esquecidas tão cedo e a esperança reaimentada de que a cidade de Chicago finalmente volte a constar de verdade no mapa da NHL.
Nosso enviado ao Clássico de Inverno

por David Clayton, torcedor dos Blackhawks e amigo de TheSlot.com.br

Depois de uma noite comemorando o Ano Novo com a família e amigos, acordei sabendo que aquele seria um dia especial. Vestidos com as roupas mais quentes que encontramos, meu filho e eu tomamos o trem duas horas e meia antes do jogo. O vagão estava lotado de torcedores empolgados dos Blackhawks e até de alguns torcedores dos Red Wings. Dava para sentir a empolgação já no trem.

Quando chegamos ao Wrigley Field, fiquei surpreso ao ver que tanta gente chegara tão cedo. Demos uma volta em torno do estádio, para absorver aquela atmosfera única, conversamos com vários torecedores tão felizes e empolgados como nós e ainda aproveitamos para passar em uma área especial que a NHL criou para a torcida.

Ao entrar no estádio eu mal podia acreditar como tinham-no transformado em um estádio de hóquei. Foi algo incrível de se ver. Depois do hino nacional, era hora de o disco cair — e de a torcida levantar, porque ninguém se sentou durante todo o jogo.

Nos primeiros 20 minutos os Blackhawks jogaram um de seus melhores períodos da temporada, mas eu comecei a me perguntar se eles conseguiriam manter o ritmo. Infelizmente para mim, os Red Wings responderam ao meu questionamento ao assumir o controle do jogo e dominando os dois períodos finais.

Deixei o estádio sentindo-me um pouco vazio, imaginando que, se os Hawks tivessem ganho, teria sido um dos principais momentos de sua história, mas acho que não era para acontecer. Agora, com a derrota superada, começo a perceber que foi uma experiência única. Vamos lá, Hawks!
Alexandre Giesbrecht, 32 anos, agradece a David Clayton pelo texto que complementa sua matéria e pelas fotos.
cortesia Dave Clayton
Vai começar o jogo. Clique na foto para vê-la maior.
(01/01/2009)
cortesia Dave Clayton
Os times se aquecem. Clique na foto para vê-la maior.
(01/01/2009)
cortesia Dave Clayton
A entrada dos Wings. Clique na foto para vê-la maior.
(01/01/2009)
cortesia Dave Clayton
Esta visão é talvez a mais surreal para um fã de beisebol. Clique na foto para vê-la maior.
(01/01/2009)
cortesia Dave Clayton
Até o placar (que não é eletrônico) foi adaptado para resultados da NHL. Clique na foto para vê-la maior.
(01/01/2009)
cortesia Dave Clayton
Para quem é fã de beisebol, esta é uma visão quase bizarra. Clique na foto para vê-la maior.
(01/01/2009)
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Página publicada em 14 de janeiro de 2009.