Por: Alexandre Giesbrecht

A manchete na nossa capa desta semana deve ter surpreendido. Fazia tempo que ninguém falava da rivalidade entre Avs e Wings, que parecia relegada ao passado, especialmente depois que a maioria dos jogadores envolvidos nas confusões de uma década atrás se aposentou ou foi jogar em outros times. Oito jogadores nos Wings e quatro no Avalanche estavam nos mesmos times quando da última série, seis anos atrás.

Mas essa rivalidade ainda não parece destinada a morrer. Uma rixa forte assim demora para ver suas feridas cicatrizadas — São Paulo e Palmeiras que o digam. As duas torcidas podem dizer que é uma série como qualquer outra, mas ninguém nelas conseguirá esconder o sorriso um pouco mais largo que o normal a cada jogada a favor de seu time, e até o grito de gol tem alguns decibéis a mais.

Nenhum confronto nos últimos 15 anos foi tão intenso. E não foi só por causa da repetição (entre 1995-96 e 1999-2000 foram quatro vezes, mais outra em 2001-02). Não. A primeira série já foi quente. Os Avs levaram-na em seis jogos, e Claude Lemieux, então no time de Denver, acertou Kris Draper com um tranco pelas costas. A cabeça de Draper chocou-se violentamente contra o banco de reservas, causando um grave ferimento.

Essa derrota no gelo e no "pau" fez ferver a cabeça dos Wings. Na temporada seguinte, em confronto que não valia grande coisa, a briga foi generalizada. Dos goleiros Patrick Roy e Mike Vernon ao último jogador no gelo, pancadas para todo lado. Lemieux não arriscou a briga com Darren McCarty e agachou-se, em uma cena celebrada em Detroit. Não são poucos os que creditam à vitória neste jogo (nem tanto a no gelo, mas a no "pau") pelo título da Copa Stanley perseguido havia 42 anos.

Os confrontos seguintes não foram tão violentos, mas foram tensos. Por três vezes (1996, 1997 e 2002), o vencedor deste confronto saiu embalado para conquistar o título. Nas outras duas vezes, foi eliminado na fase seguinte, e não dá para descartar o fato de que o clássico pode ter sido extenuante ao extremo.

A volta do clássico vem em um momento em que os ânimos estão mais uma vez acirrados, depois do incidente de 18 de fevereiro. O Detroit ganhou todos os quatro jogos durante a temporada regular, e neste último a história não foi diferente. Ao menos no placar. Ian Laperriere, dos Avs, deu um tranco legal em Nicklas Lidström, que caiu e teve sérias dificuldades para se levantar. O cotovelo de Laperriere estava um pouco mais alto que o normal, mas não foi decisivo no tranco. Lidström deixou o jogo e ficou algumas semanas fora.

Foi a fagulha que reacendeu o fogo. Não houve briga generalizada, mas Aaron Downey quis vingar seu colega e partiu duas vezes para cima de Laperriere. Os dois técnicos também trocaram insultos. E tudo isso antes de se ter qualquer certeza de que os dois times se enfrentariam nos playoffs. E, ainda por cima, antes de três antigas peças voltarem ao seu lugar de uma década atrás: Adam Foote e Peter Forsberg, pelo Colorado, e Darren McCarty, pelo Detroit. Agora que o confronto já tem no mínimo quatro novas datas marcadas, é esperar para ver o que acontecerá a partir do primeiro faceoff.

"Vai ser uma guerra", opina Jiri Hudler, dos Red Wings. "Uma guerra esportiva. Vai haver várias batalhas, mas temos de sair delas depois do apito. [Os Avs] vão tentar nos provocar e nós vamos tentar provocá-los, mas temos de jogar nosso hóquei."

Já Adam Foote, do Colorado, que estava no elenco quando da primeira confusão, tem outra opinião: "Acho que somos um pouco diferentes do resto, porque não estamos pensando [em guerra]. Sabemos que é só um time que está no caminho de aonde queremos chegar. Acho que, quando você vai ficando mais velho, não se deixa contagiar muito pela badalação."

A grande vantagem dos Wings está nos times especiais. A desvantagem numérica dos Avs não é tão confiável quanto o técnico Joel Quenneville gostaria, e a vantagem numérica é um pouco acima da média. Nos Wings, ambas as equipes são um ponto forte. Se o Avalanche equilibrar essa briga, a série promete se estender bastante, pois nos outros quesitos os times são bem parelhos.

Inclusive no gol, onde José Théodore tem calado seus críticos ao longo dos últimos meses, com boas atuações, especialmente na eliminação do Wild, na primeira rodada. Nos Wings, Chris Osgood, que não conta com a confiaça da torcida, ganhou a confiança do técnico depois que Dominik Hasek, que já não é o mesmo de seus grande dias, foi mal nas duas derrotas para o Nashville na primeira fase. Osgood deve começar a série, embalado por boas atuações nas duas últimas partidas.

O que vai ser interessante mesmo vai ser o duelo no ataque. Os Wings foram o terceiro melhor ataque da temporada regular. Já os Avs foram o 11.º melhor ataque, mas também possuem uma diversidade muito grande, com Joe Sakic, Paul Stastny, Peter Forsberg, Milan Hejduk, Andrew Brunette e Ryan Smyth. A diversidade em Detroit nem é tão grande, mas não se pode dar espaço para jogadores como Henrik Zetterberg e Pavel Datsyuk, sob pena de muitos gols. E não podemos nos esquecer do fator Dallas Drake, é claro.

Tudo isso mostra que, mesmo se a série não esquentar com murros, pode esquentar com hóquei do bom e do melhor.

E os Capitals? Sua única vitória em um jogo 7 aconteceu há exatos 20 anos, e mesmo naquela ocasião eles perderam outro jogo 7. Depois, ainda vieram os dois debacles contra os Penguins, em que eles ganhavam por 3-1 e cederam a virada. E antes ainda houve a famosa série das quatro prorrogações contra os Islanders. Alex Ovechkin vai precisar de muita mágica para vencer esse tabu. Ou então vai precisar ajudar o time a passar de fase sem precisar de todos os jogos.
Alexandre Giesbrecht, 32 anos, não crê que os Avs joguem gás no vestiário dos Wings — ou vice-versa.
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Página publicada em 23 de abril de 2008.