Por: Humberto Fernandes

Comentários gerais sobre quatro séries da primeira rodada dos playoffs.

Washington Capitals x Philadelphia Flyers
Colunistas internacionais classificaram esta série como o melhor cartão de visitas para a NHL — sugerindo até que não fosse apenas uma melhor de sete, mas uma melhor de nove, onze, quinze... —, onde todos os melhores ingredientes do hóquei estiveram presentes: velocidade, entrega, habilidade, boas defesas, muitos trancos e resultados apertados.

De fato Washington e Philadelphia protagonizaram um confronto espetacular, com final surpreendente para todos aqueles que apostavam na imortalidade de Alexander Ovechkin.

Os Flyers provaram que o russo não é invencível e insistiram na estratégia de anulá-lo através da força física. Como consequência, outros talentos dos Capitals despontaram decisivamente, como Nicklas Backstrom e Alexander Semin, mas em quatro dos sete jogos Ovechkin não marcou gol, abrindo caminho para três vitórias do Philadelphia.

Quando a estratégia falhou e o maior jogador do mundo dominou o disco com liberdade, a história do jogo 6 e do confronto mudou. Ovechkin marcou o gol da virada e da vitória no contra-ataque, garantindo a realização do jogo 7 e destruindo toda a vantagem dos Flyers.

Em Washington no desfecho da série nem mesmo a empolgação da torcida, o domínio dos Capitals nos dois períodos finais e o gol de empate de Ovechkin foram superiores a estupidez de Tom Poti, que com pouco mais de quatro tensos minutos jogados na prorrogação cometeu uma penalidade desnecessária. Em vantagem numérica Joffrey Lupul marcou o gol decisivo.

A classificação dos Capitals aos playoffs é a grande história da temporada 2007-08 da NHL. Uma franquia renascida aos cuidados de Ted Leonsis e George McPhee, proprietário e gerente geral, respectivamente, sob o comando de Bruce Boudreau, treinador que deve receber o Troféu Jack Adams, e Ovechkin, desde já um mito. Todas as apostas de McPhee no dia-limite de trocas mostraram-se acertadas, principalmente a aquisição do goleiro Cristobal Huet, fator determinante na classificação aos playoffs e na sobrevivência até o sétimo jogo. Huet que será agente livre irrestrito e atrairá grande interesse no mercado, mas que deve permanecer em Washington, encerrando de vez o longo ciclo de Olaf Kolzig na franquia.

Em se tratando de apostas a mais alta e mais lucrativa foi sem dúvida a de Daniel Briere. É na pós-temporada que um jogador demonstra seu real valor e Briere tem excedido as expectativas, liderando a liga em gols e pontos nos playoffs.

A maior profundidade e melhor qualidade dos jogadores dos Flyers derrotou a vontade dos Capitals em fazer ainda mais história.


San Jose Sharks x Calgary Flames
Mike Keenan perdeu a paciência e a série quando trocou Miikka Kiprusoff por Curtis Joseph durante o jogo 7, após o quarto gol sofrido pelo finlandês.

Os jogadores do Calgary não entenderam a mudança, mas talvez tenham pensado no jogo 3, quando com a mesma alteração os Flames viraram um jogo praticamente perdido.

Mas o raio não caiu no mesmo lugar e no segundo chute sofrido por Joseph, o San Jose abriu três gols de vantagem no placar. Keenan não pediu tempo na substituição para que CuJo se aquecesse. Frio e aos 40 anos, não foi possível defender aquele disco que poderia ter definido outro rumo para a noite.

Da mesma forma que o chute na trave de Alex Tanguay no terceiro período contaria outra história. E vários outros pequenos detalhes determinantes para o sucesso do San Jose e o fracasso do Calgary. Como Jeremy Roenick, barrado no jogo 6 e autor de dois gols e duas assistências no jogo 7, responsável direto pela classificação.

Os Flames estiveram a pouco mais de 36 minutos da segunda rodada, até Roenick empatar e virar o placar. Tivesse o Calgary mais profundidade ofensiva ou outro Jarome Iginla o resultado da série seria outro, mas quando apenas sete jogadores no time marcam gols a vida fica mais difícil.

Keenan deveria olhar para a tabela de pontuação de seu time em vez de culpar Kiprusoff pela derrota. A medíocre temporada do goleiro culminou em medíocre atuação nos playoffs — o fato de Joseph ver ação em dois jogos diz muito a respeito —, mas não fosse por Kiprusoff os Flames certamente não estariam nesta edição.


Minnesota Wild x Colorado Avalanche
A série estava empatada em dois a dois. Paul Stastny e Marian Gaborik até então faziam um duelo à parte: o confronto entre o improdutivo e o inútil, e você pode escolher o adjetivo de cada um.

Minnesota, palco do jogo 5. No terceiro período Stastny amplia a liderança dos Avs para 3-1 com seu primeiro e único gol nos playoffs. O gol que garantiu a vitória.

Em certos momentos o resultado do jogo e da série pode depender do artilheiro do time. Pergunte ao Wild o quanto a organização está satisfeita com o desempenho de Gaborik ao longo de seis jogos, em que o responsável por 19% dos gols da equipe não balançou a rede uma única vez. Gaborik é o culpado pela eliminação? Não, porque no momento decisivo, quando mais importava, os jogadores deixaram de respeitar o sistema Jacques Lemaire de hóquei e, ao não cumprir com os princípios básicos de jogo que nortearam toda a existência da franquia, o Wild perdeu seu diferencial e se igualou perigosamente aos demais. Com um ataque anêmico e sem dois defensores titulares a missão tornou-se suicida.

Os defeitos do Minnesota não são maiores que as virtudes do Avalanche.

Os Avs venceram a série porque foram mais disciplinados e inteligentes e tiveram um goleiro que roubou a cena e o jogo. No já citado jogo 5, Jose Theodore fez 38 defesas na noite em que sua equipe chutou apenas 17 vezes.

Em todos os seis jogos o Colorado marcou o primeiro gol, sempre causando no adversário o desconforto de estar atrás no placar. O Wild foi obrigado a perseguir os Avs, batendo de frente contra Theodore e dois defensores que merecem todos os créditos: Adam Foote e Ruslan Salei. Não há dúvida que o apagão de Gaborik é consequência do esforço de Foote em marcá-lo implacavelmente e de Salei, que liderou a equipe em chutes bloqueados e trancos.

Com apenas um gol, Stastny goleou Gaborik.


Dallas Stars x Anaheim Ducks
É impressionante como tem sido difícil para as equipes se manterem no topo. Tanto o Anaheim quanto o Ottawa, finalistas do ano passado, foram derrubados na primeira rodada, e os outros finalistas da era pós-locaute, Carolina e Edmonton, sequer se classificaram para os playoffs deste ano. Enquanto isso, o Tampa Bay, campeão em 2004, foi o pior time da NHL em 2008.

Assim, nos últimos cinco anos o campeão caiu na primeira rodada (ou até antes, como o Carolina) no ano de defesa do título. O Anaheim é só mais um.

Méritos para o Dallas, que assumiu a mentalidade de "nós contra o mundo" e conseguiu uma vitória convincente, quando ninguém — ninguém mesmo! — apostava nos Stars.

O símbolo do time foi Steve Ott, jogador raçudo que atormentou os Ducks em todos os jogos, com seus trancos, dois gols (um da vitória) e principalmente raça.

Do outro lado pode-se dizer que todo o Anaheim ficou devendo. Até mesmo o gerente geral Brian Burke que não calou os boatos de sua ida para Toronto no momento certo. Agora é tarde.

Humberto Fernandes começou a trabalhar nesta semana e infelizmente não teve tempo para ler o suficiente sobre a NHL, o que decretou férias antecipadas para Prorrogação e prejudicou o pobre texto acima.
Len Redkoles/Getty Images
A mais bela história da temporada 2007-08 chega ao fim com o gol de Joffrey Lupul. Washington agora tem um time de hóquei.
(22/04/2008)
Jed Jacobsohn/Getty Images
O veterano Jeremy Roenick saiu da reserva para decidir o jogo 7. Miikka Kiprusoff saiu do jogo para amargar a reserva.
(22/04/2008)
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Página publicada em 23 de abril de 2008.