Por: Thiago Leal

Steve Yzerman recebe o Troféu Conn Smythe, enquanto os Red Wings comemoram a varrida sobre o Washington Capitals. Em plena capital federal, o Detroit comemorou o título da 81ª temporada da NHL, realizada em 1997-98, repetindo o feito da 80ª temporada, em 1996-97. Pela última vez na história da Liga um time comemorava um bi-campeonato. Antes deles, o Pittsburgh Penguins tinha conquistado a façanha em 1990-91 e 1991-92. Os Pens foram precedidos pelo Edmonton Oilers em 1986-87 e 1987-88 e em 1983-84 e 1984-85. Antes disso, a NHL vivia eras de dinastias, com New York Islanders e Montreal Canadiens.

Os tempos são outros. Se desde 1998, temporada 81, não temos um bi-campeão, não é na atual temporada 90 que o feito vai se repetir. O Anaheim Ducks, atual campeão da Copa Stanley, perdeu a chance de defender seu título e foi eliminado de forma incontestável pelo Dallas Stars na primeira rodada da pós-temporada. Críticas aos Ducks? Sim, existem, aos montes. Mas nada pode superar a excelência e a qualidade de jogo dos Stars que, assim como haviam feito durante a temporada regular, derrubaram os rivais de Divisão na base do colhão. Não adiantaria chegar ao jogo 7, fazer jogo 8, jogo 9... os Stars foram indiscutivelmente superiores, na série e na temporada regular e colheram os frutos dessa condição.

A queda dos Ducks também traz à tona um curioso retrospecto. Desde a temporada 2003 que o campeão da Copa Stanley não avcança. Nessa ocasião, os Wings foram eliminados pelos próprio Ducks, então Mighty, na primeira rodada; em 2004 o New Jersey Devils caiu também na primeira rodada para o Philadelphia Flyers; em 2006 o Tampa Bay Lightning foi eliminado logo de cara pelo Ottawa Senators; e na temporada passada nem à pós-temporada o Carolina Hurricanes chegou.

Vejamos a seguir detalhes da queda de mais um campeão em defesa de seu título:


Jogo 4
Podemos dizer que a quarta partida foi determinante para a classificação do Dallas Stars e não tem como imaginar a classificação acontecer caso a franquia texana cedesse esse jogo. A série voltaria empatada para Anaheim e fatalmente os Ducks assumiriam a ponta em casa, dando um novo rumo para o certame. Não foi o que aconteceu. Como nos jogos 1 e 2, os Stars dominaram o jogo comk certa facilidade. Chega a ser ridículo como uma defesa como a do Anaheim pode se expor dessa forma — o primeiro gol é um exemplo claro disso, a troca de passes dos Stars enquanto a defesa dos Ducks se mantinha perdida, sem padronizar marcação e deixando Jean-Sebastien Giguere perigosamente exposto. Sean O'Donnell, Mathieu Schneider e François Beauchemin sentam no banco dos réus diante dessa acusação. O gás parecia não existir ali, na zona defensiva da franquia californiana. Adicione esses fatores à impotência ofensiva do time contra um goleiro em grande fase, o Marty Turco, e pronto.

Do lado verde-preto, Brad Richards justificou a aquisição junto ao Tampa Bay Lightning no dia-limite de trocas. Obviamente o trabalho todo do ataque ajudou. Outra vez, a turma da enfermaria foi fundamental e Joel Lundqvist e Mike Ribeiro foram novamente primordiais para o resultado. Ao lado de Brenden Morrow e, desnecessário dizer, Mike Modano, o Dallas mostrou durante essa série um ataque assustador que pode levar o time um pouco mais longe. E os méritos também esbarram nos ombros de Steve Ott e seus excelentes préstimos como intimidador.

Belíssima e incontestável vitória dos Stars por 3-1 e liderança da série, também por 3-1. Esse ponto deixou claro que os Stars não perderiam mais. Confirmar a classificação era uma questão de tempo. Não adiantava os Ducks voltarem a jogar da forma que os consagrou na pós-temporada anterior. Era preciso que os Stars caíssem por terra, tivessem todo o seu jogo desmontado. E em momento algum na série existiu uma pista de que isso pudesse acontecer. Bastava agora garantir o mando de gelo e, tranqüilamente, o Dallas avançaria à segunda fase da pós-temporada, o que não acontecia desde 2003.


Jogo 5
Para manter o sonho de defender seu título, o Anaheim Ducks precisava mais que vencer o quinto jogo, mas também convencer e mostrar alguma perspectiva de futuro — algo que renovasse as esperanças para o jogo 6. Os californianos não decepcionaram quanto a vontade. Assim que o disco tocou o gelo, o Ducks era só ataque. Brad May teve, talvez pela primeira vez ao longo de sua estada em Anaheim, um grande desempenho, jogando os defensores do Dallas nas bordas e indimidando o contra-ataque como um homem de sua posição deve fazer.

Mas o mais importante acontecia lá atrás. Os Stars depararam novamente com um personagem que mudou os rumos da Conferência Oeste na pós-temporada 2003. Giguere pareceu adquirir sua velha forma e assumiu a velha condição de muralha que fez sua fama e o colocou como um dos melhores goleiros da Liga há cinco anos atrás. Esse "retorno" do bom e velho Giguere foi fundamental para uma tentativa de reação dos Ducks. Porque o ataque que veio de Dallas foi igualmente maciço, como tem sido ao longo de toda a série. Modano, Richards, Ribeiro e Morrow, embalados com a vitória em Orange County nos jogos 1 e 2, abriram fogo contra Giguere.

Do lado de lá turco também esteve em excelente forma, o que proporcionou um grande confronto. Uma defesa de Turco em cima da linha em chute de Selanne, que havia circulado por trás da trave, causou um momento de sangue quente entre Ducks e Stars, com empurra-empurra e bate boca na área do goleiro texano.

As atuações de Giguere como era de se esperar, deu liberdade e a defesa dos Ducks voltou a atuar bem. Anular Jere Lehtinen, que ainda conseguiu uma assistência, garantiu a vitória aos Ducks por 5-2 e um alento de esperança para a defesa da Copa Stanley.


Jogo 6
Uma marcação perfeita. Uma defesa que se entregava e se esforçava para proteger Turco, enquanto o ataque funcionava de forma invejável. O disco corria de lá para cá enquanto os Stars avançavam e faziam a defesa do Anaheim tremer. Tudo bem que o gol de Corey Perry no segundo período, quando o jogo estava 0-0, assustou. O Dallas, que abriu 3-1 na série, voltou de Anaheim com 3-2 e ceder o empate em casa, para decidir novamente em Anaheim poderia significar o fim do sonho. Mas bastou uma vantagem numérica no início do último período para Stephane Robidas acalmar a casa, empatando o jogo. Porque menos de um minuto depois ele estava ali para assistir Stu Barnes e os Stars virarem o jogo.

Com 2-1 e o Dallas melhor no rinque, não tinha como se vislumbrar ameaças. Loui Eriksson e Modano, de novo em vantagem numérica, deram os golpes finais a um Anaheim que não tinha de onde tirar sua reação.

Foi uma vitória perfeita de uma franquia que foi sempre melhor em toda a série e, sem exageros, merecia fechá-la em 4-0. Os Ducks foram superestimados e o retrospecto dos dois durante a temporada regular, importantíssimo para qualquer previsão de confronto, afinal, tratam-se de rivais domésticos, foi completamente ignorado. O Dallas venceu em todos os sentidos. Mostrou que é a verdadeira força do Pacífico, novamente — me arrisco, sem medo nenhum, a dizer que estes Stars, desta forma que jogaram os seis confrontos de primeira rodada, são superiores aos Stars.


E agora?
Jogando dessa forma, afirmo categoricamente: os Stars só têm a temer o Pittsburgh Penguins. Logo, o confronto contra o San Jose Sharks, que teve alguns contratempos com o Calgary Flames, não deve ser encarado como um grande desafio, como era esse jogo com os Ducks. A primeira rodada serviu para mostrar que os Stars têm uma combinação matadora: uma linha defensiva onde Robidas, Matt Niskanen, Mattias Norstrom e Niklas Grossman cuidam da casa com segurança e protegem com eficiência um goleiro que, sozinho, já é uma barreira. A linha de ataque está com um trabalho invejável. Trabalha bem o disco pelas laterais, deve manter seu alto padrão de marcação e seus gols a curta distância. Ribeiro, Modano, Morrow, Richards, Ott, Lehtinen, Lundqvist... uma turma que está arrebentendo a boca do balão no Texas.

Desse jeito, asseguro ao Miojo e a todos os torcedores dos Stars pelo mundo: vocês só devem se preocupar com um possível encontro entre o time e George W. Bush. Essa é a única vergonha que os Stars podem causar na temporada atual.

As estrelas acabam de explodir. E seu brilho deve ofuscar muita gente nessa pós-temporada.

Thiago Leal fechou este artigo ao som da bela canção "Stars", da banda irlandesa The Cranberries.
LM Otero/AP
Stu Barnes marca o gol vencedor do jogo 6: Stars despacham os campeões da Copa Stanley.
(20/04/2008)
Christian Petersen/Getty Images
Papéis invertidos: na série, foi Joel Lundqvist quem impediu que Scott Niedermayer cumprisse seu trabalho.
(18/04/2008)
Ronald Martinez/Getty Images
Brenden Morrow e Mike Ribeiro: eles fizeram o Anaheim Ducks parecer um time de liga juvenil.
(15/04/2008)
Matt Slocum/AP
Brad Richards, mandando ver no jogo pelas alas.
(15/04/2008)
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Página publicada em 23 de abril de 2008.