Por: Alessander Laurentino

O esperado retorno de Montreal Canadiens e Boston Bruins aos playoffs da NHL, para azar dos americanos, resolveu colocar frente a frente duas das franquias mais antigas da liga e justamente duas equipes que vêm de processos de reestruturação desde as bases.

A fanática torcida dos Habs mal podia esperar para a abertura dos playoffs e ela veio em grande estilo para o time de Quebec. Jogando em casa e na frente da sua torcida os Habs não tiveram dificuldades para bater os Bruins na partida número um da série.

Com cerca de trinta segundos depois de começada a partida os Habs já abriam o placar com gol de Sergei Kostitsyn. Quando a torcida ainda comemorava o feito, o outro Kostitsyn (Andrei) ampliou a vantagem aos dois minutos do primeiro período, dando a folga na liderança para os donos da casa, que a manteriam até o final da partida.

Carey Price começou a responder àqueles que colocaram em dúvida se ele estaria pronto para os playoffs, apesar da pouca idade (20 anos) e de sua primeira participação na pós-temporada da NHL. Certamente que ele chegou credenciado com títulos de categorias inferiores (Copa Calder e Mundial Júnior), mas seria possível imaginar que o raio cairia novamente no mesmo lugar? Afinal de contas foi lá na mesma cidade e com a mesma idade que também começou a chamar a atenção aquele que viria a ser o maior goleiro de todos os tempos da NHL (Patrick Roy).

Os Bruins chegaram a diminuir a desvantagem com um gol de Shane Hnidy ainda no primeiro período, mas Bryan Smolinski ampliou a vantagem do Habs no segundo período e Tom Kostopoulos deu números finais à expressiva vitória do time de Montreal na abertura da série.

A segunda partida não foi tão fácil como a primeira e os Bruins esboçaram uma pequena reação na série. No final do período inicial Roman Hamrlik abriu o placar a favor dos donos da casa e Sergei Kostitsyn ampliou a vantagem no segundo período. Quando a vitória parecia sacramentada o time de Boston resolveu endurecer a partida e diminuiu a vantagem dos canadenses com um gol de Peter Schaefer para arrancar o empate no gol de David Krejci e forçar a primeira prorrogação da série.

A torcida de Montreal não se calou e não se abalou com o empate de Boston, ciente que seu time era superior e tinha todas as chances de marcar o gol da vitória no tempo regular. Mas esse gol nunca veio e realmente a partida seguiu para o tempo extra.

Mas os Habs não queriam dar chance para o azar e com dois minutos e meio decorridos da prorrogação, aproveitando uma oportunidade de vantagem numérica, Andrei Markov colocou um ponto final na segunda partida, dando uma confortável liderança aos Habs de 2 a 0 na série. Destaque ainda para as 37 defesas do jovem goleiro Price a favor do Montreal.

Com as partidas 3 e 4 indo para Boston, as torcidas das duas equipes se colocavam em situações extremamente opostas. Enquanto para os fãs de Montreal eles esperavam só voltar ao Bell Centre na próxima fase dos playoffs, os fãs de Boston torciam desesperadamente para que seu time conseguisse uma maneira de resolver o problema Habs.

E os Bruins até que conseguiram fazer parte do que sua torcida esperava. Na partida número 3 da série os Bruins demonstraram maior garra e vontade de vencer. Milan Lucic fez o primeiro gol da partida para os donos da casa ainda na primeira metade do período inicial, dando esperanças aos torcedores de Boston.

No segundo período os Habs tentaram colocar água no chope dos donos da casa quando Tom Kostopoulos empatou a partida aos 4:26. Invertendo a predominância que os Bruins tiveram no primeiro período, o time de Montreal deu 11 tacadas a gol no período intermediário, contra nove dos Bruins.

No terceiro período as equipes acabaram se respeitando mais e evitando se colocar em posição de serem contra-atacadas e surpreendidas pelo oponente. O resultado foram apenas quatro tacadas a gol a favor dos visitantes e sete para os Bruins.

Com o empate novamente decretado as equipes partiram para o tempo extra. Só que, diferentemente da partida anterior, dessa vez os Bruins conseguiram achar o gol adversário primeiro, e como a prorrogação é morte súbita a partida encerrou com o gol de Marc Savard, a grande esperança americana de sucesso nessa pós-temporada.

A decepção mesmo foi a torcida de Boston que não conseguiu sequer lotar sua própria arena na partida 3. A lotação da arena de Boston foi inferior a 95% de ocupação total na primeira partida da série com mando de gelo dos Bruins. Como exigir então de seu time uma virada na série se nem a sua parte a torcida consegue fazer direito?

Apesar de suas 29 defesas, Price não conseguiu levar sua equipe a um dominante 3 a 0 na série. Com a vantagem cortada para apenas 2 a 1 no confronto melhor de 7 partidas os Habs sabiam que não poderiam voltar para o jogo 5 em casa com a série empatada por vários motivos.

Dentre eles estaria o fato de os Bruins apresentarem um melhor momento psicológico, afinal de contas eles teriam começado com um déficit de 2 a 0 e teriam conseguido empatar em 2 a 2 transformando a série em uma simples disputa melhor de três.

Sabendo da importância daquela quarta partida os Habs entraram no gelo mais concentrados e deixando o burburinho da mídia no lugar certo: fora do gelo.

Na partida quatro da série os conhecidos elementos de dramaticidade, constantes em qualquer grande conquista do hóquei canadense, estiveram lá. Desde a necessidade de confirmar sua superioridade frente um adversário tecnicamente inferior, passando pela presença de um jovem goleiro revelação no gol e a vitória conquistada com esforço, raça e um gol inesquecível de uma grande estrela.

Patrice Brisebois fez o gol da vitória da equipe da província de Quebec no segundo período, aproveitando uma oportunidade de vantagem numérica. Price novamente foi decisivo na partida ao realizar 27 defesas e não tendo que recolher o disco no fundo da sua própria rede uma vez sequer na partida. Com uma grande atuação defensiva os Habs conseguiram conquistar sua terceira vitória no confronto e agora terão a chance de encerrar a série jogando frente a sua própria torcida na partida número cinco.

Uma massa que não fará a vergonha de não conseguir encher sua própria casa quando seu time mais precisa (não, os Bruins nas duas partidas não chegaram sequer a 95% de lotação), uma massa acostumada a acompanhar feitos históricos e sedenta pela volta ao lugar reservado aos grandes e inesquecíveis que conseguiram levantar a maior conquista dos esportes profissionais e o troféu mais antigo: a Copa Stanley.

Certamente o Bell Centre será um caldeirão na partida cinco da série, onde emoções estarão à flor da pele e a espera de uma nova vitória é pública e notória, uma vitória que simboliza chegar quatro passos mais perto da glória máxima de um jogador de hóquei no gelo. Isso sem falar que depois de muito tempo os Habs poderão vencer uma série sem ter que contar principalmente com a sorte, pois agora o jovem time de Montreal é favorito tecnicamente, e isso por si só é motivo suficiente para levantar uma das mais fanáticas torcidas da NHL: a nação bleu, blanc et rouge. Que os deuses do hóquei não aprontem das suas!

Alessander Laurentino há muito não conseguia acompanhar os playoffs de forma tão assídua.
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Página publicada em 16 de abril de 2008.