Por: Alexandre Giesbrecht

Que diferença um ano não faz!

Exatamente um ano atrás, os Penguins chegaram aos playoffs como favoritos, ao menos para mim, frente aos Senators. Esse favoritismo advinha de uma reta final impecável, aliada ao domínio imposto sobre o time de Ottawa ao longo da temporada regular. De pouco parecia importar o mando de gelo dos Sens. Pois não é que os canadenses vieram com tudo e aproveitaram-se de sua incomparavelmente maior experiência nos playoffs para eliminar os Pens em apenas cinco partidas?

Neste ano, os dois times se enfrentariam novamente na primeira fase dos playoffs. Um único aspecto se manteve inalterado em relação ao ano passado (a sólida reta final dos Penguins), por isso seria de se supor que a série fosse diferente. De certa maneira, está sendo.

Com o Ottawa em queda livre já há algumas semanas, as projeções passaram a pender para o lado da Pensilvânia. Some-se a isso as contusões que assolaram o elenco dos Senators, o mando de gelo invertido e a experiência de já ter vivido uma pós-temporada, e temos os ingredientes para o que vimos na última semana.

Os Penguins dominaram completamente os Sens, em todos os aspectos. Na primeira partida, mostraram a que vieram, com 4-0 e uma partida excelente do goleiro Marc-André Fleury, que no ano passado foi atormentado logo de cara pelo ataque adversário. Desta vez, demonstrou muito mais segurança e, melhor ainda, recebeu muito mais segurança de sua defesa. Essa combinação garantiu o zero no placar até em duas oportunidades de cinco contra três.

Na segunda partida, foi a vez do ataque. A eficácia não foi das melhores, é verdade, mas os 54 chutes (que eclipsaram o recorde da franquia, que já durava 38 anos) provieram de um poderio que deve ter assustado o mais otimista dos torcedores da capital canadense. O engasgo que permitiu aos Senators empatarem o jogo depois de estar perdendo por 3-0 até preocupou um pouco a torcida que lotou a Mellon Arena, mas não só o time mostrou um poder de reação até ali desconhecido, retomando a vantagem pouco depois, como não se abateu no jogo 3, apesar do domínio exercido pelo Ottawa nos minutos iniciais.

Os Sens pressionaram, mas esbarraram em Fleury mais uma vez. Eles deram tudo de si, mas nem isso foi o bastante, e o primeiro período terminou com os dois zeros no placar. Nem a volta de Daniel Alfredsson, que ainda não está 100%, ajudou. Não é fácil para uma equipe que já estava sendo dominada em uma série ver tanto esforço não adiantar nada, especialmente quando seu capitão e principal jogador volta ao gelo.

Resultado: nem o gol marcado no começo do segundo período, a única vantagem que os Sens tiveram até agora na série, deu novo ânimo ao time. Também, não deu tempo, pois poucos minutos depois Maxime Talbot empatou o jogo. Fleury continuou sólido lá atrás, e veio o segundo intervalo com mais um empate no placar. Não dá para dizer se o que aconteceu depois foi baixa auto-estima dos Sens ou grande confiança dos Pens, mas tudo o que foi necessário para o Pittsburgh virar o jogo foram 12 segundos do período final. Depois disso, mais 66 segundos para abrir 3-1 e tirar de vez as esperanças do Ottawa de não cair no buraco dos 3-0 na série.

Antes de entrar para a estatística — muito vai se ouvir falar em Ottawa sobre os Leafs de 1942 e os Islanders de 1975 —, os Senators tentaram de tudo. Até uma coincidência jogou a seu favor: um painel no corredor dos vestiários trazia uma grande foto que retratava uma vitória do time. Não qualquer vitória, mas a do jogo 5 contra os Pens no ano passado, com o aperto de mãos entre os dois elencos e o placar eletrônico ao fundo, onde se lia "Sens vencem". Causou alguma polêmica no vestiário visitante, mas logo constatou-se que era mesmo por acaso. Além de o painel já estar lá desde antes de o Ottawa conhecer seu adversário, aquela foi a única série dos últimos playoffs que os Senators venceram em casa.

A torcida que lotou o Scotiabank Place fez muito barulho, tentou empurrar seu time, mas deve ter saído decepcionada, porque mais uma vez suas estrelas sumiram no gelo nesta série. Alfredsson pouco apareceu, mas ao menos podia dizer que não estava em suas melhores condições. Qual a desculpa de Dany Heatley e Jason Spezza? Spezza até sentiu dores depois de um tranco no começo do jogo 2 e chegou a ficar fora do treino de domingo (o que gerou a manchete "Não Spezz também!" no jornal Ottawa Sun), mas não pareceu muito incomodado no jogo 3. Até marcou uma assistência, seu único ponto na série, igualando a marca de Heatley, conquistada na partida anterior. Não por acaso, o artilheiro isolado do time na pós-temporada, com meras duas assistências, é o zagueiro Mike Commodore, que não é conhecido pelo seu talento ofensivo.

Só quem tem brilhado é o goleiro Martin Gerber, soterrado sob nada menos que 126 chutes adversários em três jogos, o que dá uma média de 42 chutes por partida. Seus 90,5% de defesas não são fenomenais, mas já representam uma atuação muito mais impactante que a de qualquer outro colega de time, isso sem falar em duas defesas espetaculares que ele fez em chutes de Marián Hossa, para ficar em apenas um exemplo.

Ainda há esperanças para os Senators, mas não são das maiores. Eles foram amplamente dominados até aqui, então não vai ser uma simples melhora que vai mudar o rumo da série. Não é necessário que Gerber melhore, desde que a defesa à sua frente dê sinais de vida, o que já vimos ser possível durante boa parte da temporada regular. Causa até estranhamento essa fragilidade repentina da zaga, porque, ao contrário do ataque, ela não perdeu ninguém por contusão.

Cabe, pois, ao setor ofensivo tentar salvar a pátria. A defesa dos Penguins não é muito confiável e não vai custar nada testar Fleury para ver se essa auto-confiança recém-adquirida agüenta uma dose de desespero adversário. Mas o cenário é sombrio para os Senators.

Enquanto isso, é compreensível se os Pens já estiverem começando a pensar no adversário da próxima fase. Se não subirem no salto alto, vão poder assistir ao resto da primeira fase de camarote, anotando os defeitos e qualidades dos times que ainda vão estar se matando para garantir uma vaga que em Pittsburgh já é dada como certa.

Ou não.

Não dizem que gato escaldado tem medo de água fria? Então, adivinhe quem foi que os Islanders derrotaram em 1975.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, agora assina a Wired.
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Página publicada em 16 de abril de 2008.