Por: Thiago Leal

Ducks e Stars contrariaram minhas expectativas e confirmaram o óbvio. Pelo menos, o óbvio da temporada regular — ainda assim, em termos.

Minha análise na edição passada, linkada na primeira fase deste artigo, tinha como base o retrospecto da temporada regular. Não a favor desse retrospecto, mas contra. Defendi que todo o retrospecto deveria ser esquecido e que os Ducks inverteriam a situação, com base de que o time é melhor, o time tem um jogo mais próprio para pós-temporada e, principalmente, pelos possíveis desfalques dos Stars.

O que aconteceu até agora foi uma quase-total inversão desses valores. O fato é que os Stars viraram o jogo confirmando, mais uma vez, o óbvio da temporada regular. Assumem agora o posto de favoritos. Quando você estiver lendo esta coluna, o jogo 4 já pode ter ocorrido, o que será definitivo para o confronto.

Como chegamos até aqui?

Jogo 1: Anaheim — Dallas 4, Anaheim 0
Dos quatro possíveis desfalques do Dallas Stars, apenas um se confirmou: Sergei Zubov, ainda sem previsão de volta. Jere Lehtinen, Mike Ribeiro e Brad Richards estiveram presente e ajudaram os Stars fazerem a diferença. Mas do meu ponto de vista, o problema em si não esteve do lado texano, mas sim dos Ducks — que acabaram confirmando o único desfalque significativo, o Corey Perry, sempre decisivo em Anaheim.

Desfalcado de Marc-Andre Bergeron, Joe DiPenta e Doug Weight, o Anaheim foi um time nervoso e entrou no jogo carregado dos Stars. A franquia de Dallas concentrou seu jogo nas bordas, e foi pelas alas que provocou o desespero defensivo dos donos da casa. Chris Pronger falhou nos dois primeiros gols dos Stars, ocorrido ainda no primeiro período, por Steve Ott e Loui Eriksson. Pronger também liderou os Ducks a um jogo desleal e imprudente, e o time acumulou penalidades, “detalhe” que fez toda a diferença. Os Stars chegaram ao terceiro e quarto gol no segundo período, com Lehtinen e Brendan Morrow, os nomes do jogo.

Todos os quatro gols foram conquistados em vantagem numérica — forma como os Ducks deveriam basear seu jogo, não o contrário. Foi excelente e esplêndido. Os Stars sabem segurar o resultado, sabem se aproveitar da desvantagem numérica adversária e venceram de forma incontestável.

Mas o que mais impressionou foi a atuação digna de MVP de Marty Turco. O goleiro dos Stars “fechou a porta” e segurou tudo que foi lançado contra sua rede. Barrou 23 chutes a gol e saiu do rinque como o herói da noite. Mesmo assim, não acredito que Turco tenha feito toda diferença. Sua segurança facilitou o trabalho do time, que poderia ter seus planos atrapalhados por um gol do Anaheim. Mas a conexão ataque-defesa estava tão boa, o jogo limpo pelas alas estava tão eficiente que os Stars venceriam de qualquer jeito. Um shutout em jogo de pós-temporada nunca acontece por acaso.

Ganhou o jogo e ganhou moral.

Jogo 2: Anaheim — Dallas 5, Anaheim 2
Depois de Ribeiro tirar o primeiro gol do Dallas da cartola, ainda no primeiro período, os Ducks voltaram a jogar da forma infantil que os prejudicou no primeiro jogo. Em desvantagem numérica, cederam o segundo gol aos Stars no início do segundo período, marcado por Lehtinen. Houve um momento Anaheim na partida, quando o time da casa obteve a vantagem numérica e diminuiu o placar.

Um grande jogo não pode ser decidido em vantagem numérica, um time que quer ser campeão também não pode basear todo seu jogo nesses termos. O Dallas ainda não havia entendido isso, e os Ducks pareceram não entender, mesmo depois de empatar com Travis Moen.

Cederam vantagem numérica novamente e os Stars marcaram o gol vencedor nos primeiros minutos do terceiro período, com Mike Modano em assistência de Ribeiro e Stephane Robidas.

Ah, sim... os Stars mostraram que entenderam que não podem basear seu jogo pelo número de jogadores no gelo. Marcaram mais dois e massacraram os Ducks, novamente em Anaheim. Toda vantagem do confronto passa para os Stars, que voltam pra casa com uma vantagem considerável e podem matar a série no jogo 3. Mas...

Jogo 3: Dallas — Anaheim 4, Dallas 2
A expectativa em cima desse jogo era grande, porque os Stars poderiam matar a série aqui. Vencessem a terceira partida, não tenha dúvidas de que a campanha seria encerrada com uma varrida em cima dos atuais campeões da NHL. Era um cenário óbvio. Para evitar esse vexame, o Anaheim Ducks tinha de pôr no rinque a proposta que trouxe a NHL. Foi exatamente o que aconteceu — pelo menos nos dois primeiros períodos.

Mandando no jogo como fizeram durante a campanha do título na temporada passada, os Ducks cuidaram de proteger o disco e a posse do disco. Jogar os defensores do adversário nas bordas e abrir caminho para seus jogadores mais técnicos. Foi assim que saíam os dois primeiros gols do Anaheim, um de Todd Marchant, com assistência de Moen e Pronger; e outro de Ryan Getzlaf, sem assistência.

Tudo isso é muito Anaheim Ducks, Era Samueli.

Para completar, Niklas Hagman cedeu vantagem numérica aos Ducks. No rinque, Todd Bertuzzi e Doug Weight construíram a jogada que culminou no gol de Pronger. Isso, esse tipo de jogo, esse tipo de jogador... é muito Anaheim Ducks, Era Samueli.

Foram essas as bases que tornaram os Ducks campeões na temporada passada.

Da mesma forma, mas com assistência de Getzlaf e Teemu Selanne, os Ducks chegaram ao quarto gol e mataram o jogo.

Por algum motivo, os Stars só acordaram para o jogo no terceiro período. Fizeram a farra pelas bordas, arrancaram duas vantagens numéricas e desse fundamento surgiram dois gols, exatamente da mesma forma. Ribeiro assiste Modano que assiste Morrow que manda para o gol.

Isso é muito Dallas Stars, série Quartas-de-Final de Conferência da Pós-Temporada 2007-08. Foi assim que os Stars chegaram até aqui.

Lembraram tarde demais, pelo menos nesse jogo 3.

Jogo 4 — Dallas
Os Ducks podem ter acordado para a série agora. Esse quarto jogo tornou-se o termômetro do confronto e o primeiro período deve ser determinante. Quem impor seu jogo primeiro leva a vitória, isso é inquestionável. Para os Ducks, significa levar a série empatada para Anaheim onde podem assumir a liderança. Para os Stars, devem valer, em definitivo, a classificação à próxima rodada.

Atenção aos 20 minutos iniciais. Sem dúvida, as bordas serão mais requisitadas que nos três primeiros jogos e ceder vantagem numérica será fator primordial.

Na atual conjuntura, nem dá para apontar favorito. Mas os Stars têm encaixado seu jogo com maior facilidade, então têm a vantagem, pelo menos até que o disco caia, no playoff que abre a partida.

Está tão difícil que prefiro guardar minha opinião para o (possivelmente óbvio) jogo 5. Ducks vencendo hoje, assumem a ponta na quinta partida da série, sem dúvida. Se der Stars, os texanos fecham a série em cinco jogos, lá em Anaheim.

Thiago Leal parabeniza Fabiano Pereira pelo nascimento de sua filha Isadora.
Stephen Dunn/Getty Images
Steve Ott deu o primeiro tiro e o Dallas Stars atropelou o Anaheim Ducks no jogo 1.
(10/04/2008)
Chris Carlson/AP
Da enfermaria para os rinques: Brad Richards detonou o jogo 2.
(12/04/2008)
Matt Slocum/AP
Chris Pronger derruba Mike Ribeiro: depois de falhar nos jogos 1 e 2, ele arrebentou na terceira partida.
(15/04/2008)
Humberto Fernandes
Típico torcedor brasileiro dos Ducks, passeando por Viçosa, MG. Pergunte-o a respeito dos playoffs e você certamente ouvirá um "A mãe de quem?"
(15/04/2008)
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Página publicada em 16 de abril de 2008.