Por: Thiago Leal

Ov... Ove... Ovech-quem??

Brincadeiras à parte, e sem querer diminuir o nome do russo, que foi uma das estrelas do jogo 1. Mas a diferença toda na série entre Washington Capitals e Philadelphia Flyers tem sido Daniel Brière — que, com ajuda de Mike Knuble, Vaclav Prospal e Scott Hatnell, vem garantindo a franquia da Pensilvânia na segunda rodada da pós-temporada.

Flyers, melhores desde sempre
Que fique claro: o mando de gelo é dos Capitals. Mas os Flyers são mais time, desde a temporada regular. E não apenas em teoria, não só no plantel, no papel, mas também de fato. Vale lembrar que os Flyers foram um time com classificação geral melhor que os Caps. A equipe da Filadélfia terminou a temporada com 95 pontos contra 94 dos Capitals. Tudo bem, é apenas um ponto. Mas um ponto que colocaria os Flyers bem na frente dos Capitals, que só teve sua vantagem definida pelo fator "título de divisão", já comentado aqui em TheSlot.com.br em duas ocasiões diferentes.

De qualquer forma, afirmei os Capitals como favoritos me baseando em dois times, teoricamente, com forças equilibradas e considerando o fator "seqüência" e "embalo" a favor dos Caps, que vinham de uma classificação heróica e inimaginável, saindo do status de eliminado para Campeão do Sudeste e entrando com mando de gelo na pós-temporada. O outro ponto foi a comparação entre os veteranos e os jovens de ambos. Apostei que a juventude de Alexander Semin, Nicklas Backstrom e a experiência de Viktor Kozlov e Sergei Fedorov superariam Joffrey Lupul, Scott Hartnell, Patrick Thoresen, Mike Ricards, Brière e Prospal. Foi justamente aí onde me enganei — pelo menos nos jogos 2 e 3 da série, que puseram os Flyers em vantagem.


Capitals, na frente, mas não superiores
O jogo 1 foi um dos melhores da primeira rodada da pós-temporada até agora, pelo menos em termos de movimentação. Com poucas penalidades, as equipes travaram um emocionante duelo no rinque do Verizon Center, recheado de reviravoltas e uma bela virada por parte dos Capitals, a menos de cinco minutos da decisão. O placar do jogo foi aberto por Donald Brashear após uma bela troca de passes dos Caps. Ainda no primeiro período, Prospal chutou próximo ao slot direito dos Capitals para marcar o gol de empate.

Com uma linha mais fraca no rinque, os Capitals tomaram a frente de novo com David Steckel, após contra-ataque relativamente lento da franquia da capital estadunidense. Steckel deve o gol a um belo passe de Matt Bradley. Daí pra frente veio o susto. A defesa do Washington se deu ao luxo de não deixar nenhum brutamontes de lado em Brière. O central foi assistido live e desempedido por Knuble para chutar e empatar o jogo. Começava o período dos Flyers e uma amostra do que a franquia laranja-negra tem para mostrar na pós-temporada. Cristobal Huet bateu os braços perguntando-se o que poderia fazer quando uma nova displicência defensiva de Green e Milan Jurcina permitiu que Brière e Prospal trocassem passes de frenta para a meta antes que o último chutasse e virasse o jogo. No corredor livre que era o rinque dos Capitals, ainda mais em vantagem numérica, Richards e Prospal tiveram facilidade em avançar e assistir Brière para marcar o quarto gol dos Flyers.

Os pontos fracos dos Capitals estão todos aí. Qualquer time que desça em velocidade pega uma defesa que bate cabeça e se perde na menor troca de assistências.

A situação melhorou para os donos da casa quando o ataque passou a jogar duro. Semin e Fedorov foram fundamentais nessa intimidação, que permitiu a Green um gol com vôo no melhor estilo Bobby Orr, já na metade do último período. Depois de um chute de Backstrom que quase inutilizou Lupul, que havia deitado para tentar bloquear o chute, Ovechkin assistiu Green que com um tiro a meia-distância empatou o jogo.

Agora... me pergunto o que se passou na cabeça de Lasse Kukkonen para brincar com o disco próximo à área do goleiro na presença de Ovechkin. O russo facilmente recuperou a borrachinha congelada e a guardou na rede de Martin Biron. Seu primeiro gol na história da pós-temporada e jogo 1 fechado para o seu time.


Flyers, esses sim, superiores
Certamente, fazia parte do plano primordial dos Caps vencer seus dois jogos em casa. Visivelmente, o coletivo dos Flyers é bem melhor e recuperar pontos no Wachovia Center seria bem complicado. Mas repetir os erros do jogo 1 na segunda partida sem o menor pudor atrapalha qualquer plano. Quando você permite que RJ Umberger entre livre através de sua linha azul para colocar no gol e patinar pro abraço, você está convidando os demais atacantes do adversário a subirem e arriscarem seus chutes da mesma forma.

Não posso maximizar os erros dos Capitals. A defesa dos Flyers trabalhou muito bem no jogo 2, protegendo o gol de Biron para que seu ofício não fosse prejudicado — há de se salientar que isso ocorreu também no jogo 1, mas os Caps conseguiram quebrar na base do talento individual. Quando os dois times têm bons goleadores, uma boa defesa tem o poder de definir um resultado. A dos Flyers garantiu um shutout a Biron na segunda partida.

Mas quem estava ao lado de Huet para impedir que seu rebote num chute de Knuble caísse na blade de Jeff Carter, que só teve trabalho de encostar?

Flyers 2-0, série 1-1, deixando Ovechkin cabisbaixo e a franquia da Filadélfia com uma boa vantagem para defender em casa.


O massacre do jogo 3
Os Flyers aprenderam direitinho, principalmente através de Brière, que a defesa dos Capitals se entrete com o disco feito criança. A descida pelas alas foi a melhor arma de Brière na série até agora, e foi assim que o melhor jogador deste capítulo recebeu assistência de Prospal e abriu placar para o jogo 3, de novo deixando alguns capitaizinhos desorientados. Tingida de laranja, a torcida fez uma grande festa ao soar da sirene enquanto Brière se empolga cada vez mais com o desempenho de seu time — um verdadeiro líder solitário na ausência de Gagne.

A facilidade contrasta com a dificuldade e o esforço feitos por Steckel e Brashear antes que Eric Fehr empatasse para os Capitals. Talvez foi a única luz no fim do túnel que os Caps viram no jogo três. Mesmo que tenham, até certo ponto, mantido a diferença de um gol, o Washington foi bem inferior aos Flyers.

Hartnell pôs o Philadelphia na frente num ataque que até lembrou os áureos anos 70, com o time jogando duro, intimidando e esbanjando perfeição na troca de passes e de chutes. Assistência de quem? Claro... Prospal e dele, Brière.

O #48 dos Flyers apareceu novamente para marcar um gol em vantagem numérica, já com o placar em 3-2. Danny Brière aproveitou rebote de Huet, novamente sem ninguém para protegê-lo, e marcou, fechando sua conta na noite. Richards e Knuble ainda deixaram os seus na vitória por 6-3 que bem poderia ter sido um 6-0, tamanha foi a superioridade dos Flyers.

Num confronto onde todos pensavam em Ovechkin, Brière tomou as rédeas da situação. Sem Gagne, mas com Prospal como fiel escudeiro, Danny tem guiado a franquia da Filadélfia num caminho surpreendente até agora na pós-temporada. Não pela superioridade dos Flyers sobre os Caps, porque isso seria o mais lógico a acreditar, mas pela facilidade com que o time vem jogado.

Ah, claro... e o fator pessoal, sua rivalidade com Ovechkin. Na temporada passada, ambos envolveram-se numa polêmica após um tranco do russo sobre Danny, quando este ainda defendia as cores do Buffalo Sabres. Em sua dificuldade em falar inglês, Ovechkin tentou explicar que não teve intenção de machucar Brière — o que, convenhamos, é discurso padrão. Brière chegou a agredir Ovechkin, "esgrimando-o" com o taco, algumas semanas mais tarde, em retaliação ao golpe.

A rivalidade, atpe agora, parece estar sendo resolvida puramente no jogo. E Brière vem levando grande vantagem.

Thiago Leal decidiu fazer alterações significativas em Anatomia de uma Derrota.
Bruce Bennett/Getty Images
Danny Brière: aproveitando o corredor da defesa dos Capitals para descer pelas laterais e marcar gols.
(15/04/2008)
Tom Mihalek/AP
Alexander Ovechkin tem se encontrado impotente ante a força dos Flyers.
(15/04/2008)
Len Redkoles/Getty Images
Jeff Carter marca enquanto Ovechkin desce, em vão, para tentar corrigir o furo na defesa dos Caps.
(13/04/2008)
Greg Fiume/Getty Images
Vaclav Prospal chuta para marcar: o tcheco veterano tem sido tão essencial quanto Brière nesse início de playoffs.
(15/04/2008)
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Página publicada em 16 de abril de 2008.