Comentários gerais sobre quatro séries da primeira rodada dos playoffs.

Pittsburgh Penguins x Ottawa Senators
Amplamente dominados em Pittsburgh, em que mesmo sofrendo nove gols em dois jogos seu melhor jogador foi o goleiro Martin Gerber, os Senators foram para o jogo 3 dispostos a roubar a atenção.

E conseguiram, mas não jogando hóquei.

A primeira e polêmica decisão da gerência foi "redecorar" a arena, colocando no caminho entre os vestiários e o gelo uma foto de cerca de três metros quadrados dos playoffs do ano passado, mais precisamente do momento em que os Senators e os Penguins de 2007 se cumprimentavam após a vitória do Ottawa na série.

Os Sens alegam, com razão, que a foto já estava lá antes mesmo da definição dos Penguins como adversários da primeira rodada. O gerente geral e treinador Bryan Murray declarou que não teve nada a ver com tal atitude, desrespeitosa e prejudicial ao próprio time.

A segunda e vergonhosa escolha foi ainda pior. Para a abertura dos playoffs em Ottawa, os Sens designaram um ator (ou quem quer que seja o palhaço) para se vestir de guerreiro Espartano e promover a introdução do jogo. Tire dois minutos para apreciar essa preciosidade. O que foi aquilo?! Posso imaginar os garotos dos Penguins dando gargalhadas ao ver tamanha bizarrice.

Pôster gigante e palhaço Espartano era tudo que os Sens não precisavam naquele momento. Não havia maior inspiração para o time que o retorno do capitão Daniel Alfredsson da morte. Não exatamente morte, mas Alfie estava afastado por contusões na cabeça, pescoço, costas e joelho, sendo que o ligamento rompido no joelho demandaria de quatro a seis semanas para recuperação. Então a idéia de que ele poderia jogar hóquei apenas dez dias depois da contusão parecia não só improvável, como impossível.

Como impossível é agora a virada na série, porque só existe um Alfredsson em Ottawa. Atrás por três jogos na série, nem mesmo todo o exército de Esparta conseguiria derrotar os Penguins. E assim a temporada de início recorde dos Senators termina com uma queda recorde, o que apenas justifica o rótulo de "Britney Spears do hóquei".


Washington Capitals x Philadelphia Flyers
O retorno de Derian Hatcher no jogo 3 apenas acentuou a diferença entre os homens dos Flyers e os meninos dos Capitals. Basta dizer que qualquer defensor do Philadelphia seria titular no Washington, enquanto a recíproca não é verdadeira, pois certamente um e no máximo três defensores dos Capitals teriam lugar no time adversário.

Como contornar tamanha diferença? Durante a temporada regular, um Alexander Ovechkin e muita vontade é suficiente. Nos playoffs, não, até porque o russo marcou o mesmo número de gols que o intimidador do time, Donald Brashear: um — e que um!

Enquanto os Caps sofrem com a falta de profundidade tanto no ataque quanto na defesa e a inexperiência de seus jogadores, os Flyers recebem os dividendos das apostas em Daniel Briere e Vaclav Prospal, os dois líderes do time em pontos no confronto.

A única maneira de parar Ovechkin é através da força e o Philadelphia sabe usar deste artifício, alvejando o craque adversário e seus companheiros. Até mesmo o goleiro Christobal Huet já foi propositalmente atingido várias vezes.

Apesar de ter sofrido 11 gols em três jogos, Huet não é o culpado pelas derrotas dos Capitals, ele é a vítima. Do outro lado, embora tenha conquistado um shutout no jogo 2, o desempenho de Martin Biron também não é determinante para o placar da série, comprovando que os goleiros não têm sido um fator decisivo.

Neste confronto aconteceu o pior lance da pós-temporada, quando Patrick Thoresen se atirou para bloquear um chute de Mike Green e foi atingido pelo disco entre as pernas, com tanta força que o jogador foi levado para o hospital. A princípio cogitou-se até a remoção de um testículo, mas em seguida verificou-se que a contusão não era grave. Thoresen perdeu apenas um jogo.


San Jose Sharks x Calgary Flames
Existem dois times dos Sharks na série. O primeiro é aquele que dominou completamente o segundo período do jogo 2, metralhando o gol dos Flames com 27 chutes e permitindo que Evgeni Nabokov fosse incomodado apenas três vezes. Esses mesmos Sharks estiveram presentes nos primeiros minutos do jogo 3, quando a equipe marcou três gols em 122 segundos.

O segundo foi aquele que sofreu a incrível virada no jogo 3, perdendo uma partida teoricamente ganha, e que regularmente se apresenta em diversos momentos em todos os jogos, quando o time se "desliga" e permite que o adversário seja superior. Deficiência essa já conhecida, responsável direta pela eliminação no ano passado diante dos Red Wings.

Na história do jogo 3, certamente a partida que mais se destaca nos playoffs até o momento, os Flames batalharam para "desligar" os Sharks, através da força física. Primeiro Dion Phaneuf esmagou o capitão Patrick Marleau nas bordas, abrindo um corte no rosto do jogador. Minutos mais tarde Marleau dominou o disco de cabeça baixa e foi atropelado por Cory Sarich, o que ampliou o sangramento em vários pontos do rosto.

O limpo tranco de Sarich foi o ponto de ruptura. Na confusão que se iniciou após o tranco os Sharks foram penalizados, proporcionando vantagem numérica para os Flames, aproveitada por Jarome Iginla. A partir daí os donos da casa aproveitaram o momentum, assumiram as rédeas do jogo e batalharam gol a gol até a virada.

No jogo 4 os Sharks dominaram o jogo do começo ao fim — inclusive permitindo apenas dez chutes a gol por parte dos Flames, o mínimo já registrado em partidas de playoffs na história da NHL —, mas os números são enganosos, deixando a impressão de que o Calgary teve sorte em perder por apenas um gol e nos últimos dez segundos.

Na verdade a superioridade dos Sharks não se traduziu em reais oportunidades de gol e eles estiveram bem próximos de perder o jogo e possivelmente a série, quando Daymong Langkow acertou o travessão no terceiro período.

Mesmo massacrando o adversário em chutes a gol (141 a 79), o San Jose definitivamente não domina a série como seu favoritismo inicial indicava. Ao Calgary faltam opções no ataque, porque seus atacantes das linhas inferiores são nulos.

Após quatro jogos os times já se conhecem e o confronto está equilibrado. Os Sharks não estão mais quentes que a dez dias atrás e os Flames já derrotaram o "bicho-papão" duas vezes na série. Vamos para a melhor de três.


Dallas Stars x Anaheim Ducks
A estratégia do Dallas para derrotar os atuais campeões é simples: atacar, atacar e atacar. Não é fácil quando se enfrenta do outro lado uma defesa estelar, um goleiro fenomenal e linhas de ataque balanceadas, mas atacando sem medir forças os Stars causam a reação natural dos Ducks de impedi-los, usando geralmente a força.

Ao longo dos três jogos os Stars tiveram 7min28s a mais de tempo em vantagem numérica que o adversário, marcando oito gols nesta situação. Os Ducks, em comparação, marcaram apenas três vezes.

O excesso de penalidades cometidas tem dificultado a vida do Anaheim, mas aos poucos a equipe encontra o equilíbrio entre o que é legal e o que gera dois minutos de castigo.

Como no jogo 3, em que os dois primeiros gols têm a marca registrada do time. Quando Travis Moen venceu a luta pelo disco nas bordas (para passar a Todd Marchant, sozinho, marcar) e minutos mais tarde, quando Brad May acertou um tranco em um adversário no mesmo local (fazendo o disco cair no taco de Ryan Getzlaf, de frente para o gol), eles estavam praticando o estilo de hóquei que ganhou a Copa no ano passado. É assim que deveria ser desde o jogo 1.

Os Stars não são melhores, eles estão melhores que os Ducks. Mesmo jogando em casa o jogo 4, a vitória de terça-feira pode ter mudado o momentum a favor do adversário. E se os atuais campeões empatarem a série, dificilmente o Dallas terá alguma esperança e motivação a partir do jogo 5.

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• Editorial
• Prorrogação
• O início da caminhada do Montreal
• Rangers saem na frente
• Amplo domínio
• Comentários em séries
• Uma pincelada nos playoffs
• Os novos Leafs?
• O time do apagão
• A série das prorrogações
• Pós-temporada de caça ao pato!
• A série de Brière
• A NHL precisa de Ovechkin e Crosby