Por: Marcelo Constantino

Quando esta edição for lançada e você estiver lendo esta matéria, muito provavelmente a série entre Detroit Red Wings e Nashville Predators já terá sua quarta partida encerrada. Independentemente de qualquer mudança de atitude, os Wings podem vencer o jogo 4 e ficar a uma vitória de fechar a série. Ou os Predators podem capitalizar a bela vitória de segunda-feira e empatar a série. Aconteça o que for, esta série tem um retrato muito claro para mim até aqui: um time muito melhor jogando contra um time muito mais batalhador. Já vimos esse filme antes, com diferentes finais.

A rigor, esses Wings estão muito semelhantes aos Wings da primeira rodada de playoffs do ano passado. Aliás, a rigor, o time parece seguir uma trajetória muito semelhante àquela: começo de temporada espetacular, término patético, começo de playoffs letárgico e, daí em diante, o filme varia.

Chega nesta hora e os Wings — bastante distantes daquele espírito de playoffs da NHL — buscam jogar um hóquei, digamos, "suficiente", ou seja, apenas o necessário para passar pelo adversário. Adversário este invariavelmente mais determinado (ainda que inferior tecnicamente) que o Detroit.

Mas, verdade seja dita, a última vez que o Detroit entrou nos playoffs com aquele espírito necessário de playoffs da Copa Stanley foi em... 1999. Eu acompanho a NHL desde 1997 e acredito que aquela tenha sido a única vez. Geralmente eles começam devagar, tendo mais problemas do que deveriam na primeira fase dos playoffs. Eventualmente o adversário era tão inferior que não conseguia aproveitar essa chance. Eventualmente a vontade do adversário era tão superior à dos Wings que protagonizou definitivas vitórias — a lembrança do Anaheim e do Edmonton nos penúltimos anos permanece viva.

Apagões

Então a série contra os Predators está assim: os Wings são bem melhores e os Preds estão bem mais determinados. Só que há uma característica — que não é nova — mais latente no time do Detroit nesses playoffs: ele sofre alguns apagões durante os jogos. Geralmente o Nashville aproveita essas chances e capitaliza. Aliás, os apagões do Detroit geraram rápidos empates e, no jogo 3, gerou a virada dos Preds.

Não é que o Nashville tenha empatado (ou virado) os jogos porque seguiu evoluindo seu jogo, encurralando os Wings cada vez mais, levando cada vez mais perigo. Não, nada disso. Chega um determinado momento do jogo em que os Wings, à frente no placar, parecem atingir um grau superior de letargia e praticamente pedem para que os Preds reajam. E eles não fazem por menos, vão lá e reagem, empatando rapidamente a partida. Isso aconteceu em todos os jogos da série. E o estopim para isso foi propiciado pelos próprios Wings, geralmente com falhas de Dominik Hasek.

Vamos então a um breve resumo de cada um dos jogos até aqui.

Os jogos

Jogo 1

Seguramente o pior jogo da série, chegou a ser enfadonho em alguns momentos. Johan Franzen, ainda endiabrado, abriu o placar. Os Preds conseguiam encurralar os Wings com relativa facilidade, mas sem produzir chances de gol.

Os Wings conseguiam produizir algumas boas jogadas de ataquem, mas pecavam na conclusão. A tradicional grande quantidade de disparos a gol do Detroit são o mesmo de sempre: não refletem reais chances de gol, a expressiva maioria é facilmente defendida por Ellis. Eles cozinham o jogo no segundo, atingindo o citado grau máximo de letargia. Para salvar o jogo, o Nashville começa a gostar e efetivamente ameaçar. Até que finalmente empata, num frangaço de Hasek. Isso acende um pouco o jogo.

Basta então que os Wings pressionem um pouco mais para desempatar — não sem antes sofrer um contra-ataque pela esquerda que resultou num disco na trave. Dali em diante os Wings voltaram a cozinhar o jogo, porém com bem mais atenção. O Nashville praticamente não mais ameaçou de forma efetiva.

Jogo 2

Foi um jogo bem melhor que o primeiro, os dois times jogaram bem mais. Os Wings dominavam o jogo até veio o apagão: erros consecutivos de Hasek e Lilja permitiram o empate dos Preds.

Veio então a retomada das rédeas e Draper fez o gol de desempata num rebote. No período seguinte Thomas Holmstrom marcou outro para garantir.

O fato curioso da partida é que todos os quatro gols foram marcados por jogadores que atuavam pelo Detroit em 1997, ano da primeira conquista desta "nova geração" dos Wings: Darren McCarty, Nicklas Lidstrom, Draper e Holmstrom.

Jogo 3

Jogo de casa cheia em Nashville. Verdade seja dita, a torcida de Nashville deu um banho na torcida de Detroit, aquela um-dia-chamada-de-"hockeytown".

O Nashville segue estragando as próprias chances de vantagem numérica, cometendo penalidades idiotas. Isso aconteceu em todos os jogos da série.

Novamente os Wings seguiam dominando quando sofreram o famoso apagão. Em dois minutos os Preds empataram o jogo no segundo período.

Veio o terceiro e Pavel Datsyuk logo desempatou. Já perto do fim do jogo o Detroit alçou novamente aquele estágio avançado de letargia e tomou dois gols em questão de segundos.

Assim mesmo, pá-pum, enquanto os Wings começavam a pensar "pô, prorrogação agora...", lá vieram os Preds em seguida e sepultaram essa idéia.

Sem qualquer poder de reação, e submersos naquele grau letárgico até o fim do jogo, os Wings apenas assistiram à festa da torcida e dos raçudos jogadores adversários. Belíssima vitória dos Predators.

Marcelo Constantino destaca as séries entre Minnesota x Colorado e San Jose x Calgary como as melhores até aqui.
Jukian H. Gonzalez/DFP
O primeiro gol da série, marcado pelo endiabrado Johan Franzen.
Kirthmon F. Dozier/DFP
Thomas Holmstrom encobre com precisão a visão do goleiro Dan Ellis e o disco disparado do meio da rua por Nicklas Lidstrom vai para o fundo da rede no jogo 2 da série.
Sanford Myers/The Tennessean
Jason Arnott pula nas bordas na comemoração do gol que viraria o jogo 3 e a história da série. Arnott andava um tanto frustrado com sua atuação e o gol saiu com grande alívio.
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Página publicada em 16 de abril de 2008.