Por: Eduardo Costa

Ak Bars Kazan (Rússia)

Nota: A base dessa coluna é uma missiva já publicada aqui, na TheSlot.com.br, mas como o artigo original não segue o modelo das matérias dessa Edição dos Campeões, estamos acrescentado informações extras, como o elenco do campeão, uma tabela com todos os resultados, além de fotos inéditas. Foram cortados os parágrafos que expuseram as edições 2005 e 2006 do torneio.

E essa modificação é também para dar ainda mais trabalho para a linha n.º 1 Sloteana, composta por Marcelo Constantino, Alexandre Giesbrecht e Humberto Fernandes, que além de colunistas, são incansáveis diagramadores. Eles interromperam suas vidas de luxúria e ostentação para colocar essa edição no ar. Sem eles, nada disso existiria. Então, vocês já sabem quem culpar.

A verdadeira Copa dos Campeões da Europa
Enquanto todas as publicações esportivas do planeta, inclusive brasileiras, alardeiam a Copa dos Campeões de futebol da Europa, a sua TheSlot.com.br, em mais um ato de rebeldia juvenil mesclado com alto consumo de bebidas alcoólicas, zomba de tudo isso. Basicamente porque:
1) O grande PAOK Salonica, da gloriosa e única liga grega, não prioriza essa competição;
2) Uma liga onde o ignóbil Juliano Belletti faz o gol da vitória da Copa, não deve ser levada a sério;
3) como é que pode ser chamada de Copa dos Campeões se até alguns 4.º e 5.º lugares de suas respectivas ligas se classificam para tal torneio?

Por isso a sua revista semanal de hóquei sobre o gelo traz agora uma análise sobre a verdadeira Liga dos Campeões da Europa. A que reúne apenas primeiríssimos lugares. Nela, vice não entra. Nela, terceiro lugar não fica sabendo nem o endereço da arena e quartos e quintos são tão ignorados quanto avisos de "aprecie com moderação" ou "pega leve, o namorado dela é PM". Nela, jovens animadoras de torcida russas entretêm o público com arte, leveza, simpatia, coreografias... Ah, a quem eu quero enganar, elas entretêm porque são deliciosas russas com trajes curtos e generosos decotes. Aí elas ficam pulando e ... (nesse momento o colunista pára e tenta lembrar do que ele ia escrever)... Bem, tudo isso para dizer que a verdadeira Copa dos Campeões da Europa é a do hóquei sobre o gelo. E essa, caros amigos, é uma verdade imutável.

Tão imutável como o domínio russo na competição. Eles venceram todas as três edições da competição até agora. E todas elas contra equipes finlandesas.

O fator torcida deve ser levado em conta para analisarmos o sucesso dos clubes desses dois países. Desde seu início, em 2005, a competição é disputada numa única cidade, a histórica São Petersburgo. A segunda maior cidade russa não tem uma equipe de primeira grandeza no hóquei, então geralmente os torcedores locais torcem pelo representante de seu país, seja ele de que região for. Já os finlandeses se aproveitam da proximidade geográfica com São Petersburgo e atravessam em bom número a fronteira.

Os suecos, atuais campeões olímpicos e mundiais de seleções, apresentam um histórico pífio na competição. E a desculpa para isso está na ponta de língua dos vikings: a liga local (Elitserien) é tida como a mais forte e competitiva do continente e está sempre em pleno andamento no mesmo período em que a Copa dos Campeões é disputada, fazendo com que as suas equipes não dêem a atenção devida ao troféu continental. Mas será que isso justifica a humilhação sofrida pelo HV71 em 2005, quando perderam por 9-0 para os russos do Avangard Omsk? Ou o Frölunda Indians sendo massacrados por uma equipe suíça (HC Davos) em 2006 por 6-2? Até mesmo o forte Färjestads BK, considerado uma das melhores equipes suecas dos últimos dez anos, deu pena nessa última edição, terminando na lanterna, atrás até mesmo do inexpressivo MsHK Zilina da Eslováquia.

Por falar em Eslováquia, vale frisar que a liga desse país não possui muitos atrativos e é considerada bem fraca. Seus melhores valores vão bem cedo para ligas juniores canadenses ou para a vizinha República Tcheca, mas como o critério para participar da competição continental de clubes é baseado nos resultados obtidos pelas suas respectivas seleções, eles levam vantagem sobre países com ligas bem mais fortes, como a alemã e suíça, que geralmente brigam pela sexta colocação no ranking europeu. Os alemães conseguiram colocar um representante em 2005 (Frankfurt Lions) e os suíços em 2006 (HC Davos) e 2007 (HC Lugano).

Vamos então a um breve resumo do que aconteceu na edição 2007 da CCE.

Ak Bars: passeio tártaro
Basta vermos o time ideal da competição, eleito pela imprensa que cobriu a competição, para constatarmos o poder do time da região do Tartaristão. Do goleiro Mika Noronen, passando pelos defensores Vitali Proshkin e Ilya Nikulin, até chegarmos ao trio do mal Danis Zaripov, Sergei Zinoviev e Alexei Morozov, todos pertencem ao esquadrão do Ak Bars Kazan.

Com esses destaques individuais, foi um passeio até as finais, onde encontrariam os finlandeses do HPK Hämeenlinna.

Equipe historicamente média da SM-Liiga, o HPK ganhou o direito de estar na CCE ao vencer pela primeira vez a liga local em 2006. A equipe se reforçou antes da competição continental. David Moravec, um jogador de muita estrela no hóquei europeu, e o americano Billy Tibbetts foram os maiores investimentos. Como resultado, o time da cidade de Hämeenlinna conseguiu manter seqüência de presenças finlandesas em finais, mas, ao contrário do Karpat, que vendeu caro suas derrotas, o HPK não foi páreo para o Ak Bars. Na verdade eles não foram páreos pra o super-trio Zaripov, Zinoviev e Morozov.

E como não bastasse ter um elenco inferior, o HPK sofreu com um erro de julgamento terrível por parte da arbitragem, que validou, mesmo após consultar a repetição, um gol de canhota (?) de Zinoviev. Quando se enfrenta o líder da liga russa, com os jogadores mais produtivos da Copa dos Campeões e com um árbitro tendencioso, a coisa fica difícil.

Apesar do destaque de Morozov, o duo Z (Zinoviev e Zaripov) não ficou muito atrás em protagonismo. Entrosamento perfeito em fórmula de tabela, concluída por Zaripov para o 2-0. O goleiro Miika Wiikman sabia que seria uma tarde complicada, mas não que começaria tão indigesta. Ainda no período inicial Morozov fazia o terceiro aproveitando uma desastrada troca de linha dos adversários, praticamente liquidando o jogo. O segundo período foi do goleiro finlandês do time russo. Noronen mostrou segurança e frieza, dispensando defesas acrobáticas.

Quem não mostrou simplicidade foi Enver Lisin. O nobre e culto leitor deve se lembrar dessa figuraça, que em 14 jogos com os Phoenix Coyotes nesta temporada, somou dois pontos e bizarros -17. Lisin mostrou desconhecer a expressão colaboração defensiva quando esteve na NHL. Já na CCE mostrou não saber o que é jogar em equipe. Egoísta e fominha, perto dele Pavel Bure seria candidato ao Troféu Selke.

O terceiro período veria mais três gols do Ak Bars. Ilya Nikulin, sóbrio defensor, dono de um chute certeiro e brutal, teria ganho meu voto de melhor jogador da competição. Ele mostrou o porquê marcando o quarto gol como se fosse um atacante nato. Organizador da equipe de vantagem numérica do time, Nikulin foi perfeito em ambos as extremidades do gelo. Mas, pensando bem, após a assistência de Morozov para o gol de Andrei Pervyshin (o do 5-0), fica difícil discordar do status de jogador mais valioso da competição, obtido por Morozov. Igor Shchadilov ainda marcou mais um, expondo o abismo técnico entre o Ak Bars e o HPK. Na verdade, expondo o abismo entre o Ak Bars e todos os outros clubes europeus no momento.

Pensamento inútil final
Da próxima vez que você encontrar alguém se referindo à Copa da Europa de futebol como Copa dos Campeões, saiba que isso é uma fraude. E esta coluna foi mais para alertar nossos nobres leitores dessa injustiça descomunal. Se existe uma Copa dos Campeões da Europa digna de se chamar assim, é a de hóquei.

Tabela
A CEE é dividida em dois grupos. E essas divisões homenageiam dois mitos do hóquei no continente: Alexander Ragulin, um dos gênios da seleção soviética que dominou o hóquei por décadas e Ivan Hlinka, que além de ter marcado época como jogador, foi o treinador que levou a República Tcheca, ao ouro Olímpico de 1998.
 
Grupo Alexander Ragulin
HPK Hämeenlinna - MsHK Zilina - 7:0 (2:0; 3:0; 2:0)
MsHK Zilina - HC Sparta Praha - 4:2 (0:1; 2:1; 2:0)
HC Sparta Praha - HPK Hämeenlinna - 2:3 (1:1; 1:2; 0:0)

Grupo Ivan Hlinka
Ak Bars Kazan - Färjestads BK - 6:4 (2:2; 2:1; 2:1)
Färjestads BK - HC Lugano - 0:3 (0:1; 0:1; 0:1)
HC Lugano - Ak Bars Kazan - 0:3 (0:1; 0:1; 0:1)

Final
HPK Hämeenlinna - Ak Bars Kazan - 0:6 (0:3, 0:0, 0:3),

Elenco campeão
Goleiros: Mika Noronen e Aleksandr Eremenko.
Defensores: Vitali Proshkin, Ilya Nikulin, Andrei Pervyshin, Igor Schadilov, Evgeny Ryasensky, Raymond Giroux, Jan Novak e Gennady Razin.
Atacantes: Danis Zaripov, Aleksei Morozov, Sergei Zinoviev, Vladimir Vorobiev, Aleksandr Stepanov, Aleksei Badyukov, Dmitri Obukhov, Mikhail Yunkov, Mikhail Zhukov, Aleksei Tereschenko, Dmitri Kazionov e Enver Lisin.

Eduardo Costa tem preguiça de escrever.
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-07 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citados o autor e a fonte.
Página publicada em 4 de julho de 2007.