Por: Eduardo Costa

Canadá

Rússia e Canadá. Se o roteiro original, e ideal, fosse seguido à risca, esses seriam os dois finalistas. Mas apenas um confirmou o prognóstico.

A Rússia, assim como nos últimos Jogos Olímpicos, viu seu sonho dourado morrer frente aos finlandeses. Esses últimos também acabaram frustrados, ao perderem mais uma final, dessa vez para o Canadá, que, após uma campanha perfeita, arrebatou seu 24.º título mundial. Vamos a uma curta análise sobre quem chegou ao pódio, e os alguns dados pertinentes — ou não.

Canadá
Desentrosamento, recusa de atletas como Ryan Smyth, o fato de o torneio ser disputado na rival Rússia e com um gelo de dimensões bem mais generosas do que os norte-americanos. Mesmo assim TheSlot.com.br apontou Canadá como finalista certo, simplesmente porque é impossível que um grupo que tenha Steve Yzerman como gerente geral e Andy Murray como comandante técnico não suceda. Um único glóbulo vermelho de qualquer um desses dois indivíduos, sabe mais sobre o jogo de hóquei do que você, eu e 99,9% da população mundial reunidos.

Yzerman soube persuadir um bom grupo de jogadores, e Murray, para minimizar os efeitos do pouco tempo que teve para treinar seu conjunto, aproveitou a química existente entres os que já atuavam juntos em seus respectivos clubes — Colby Armstrong e Jordan Staal atuaram juntos na 4.ª linha; Jay McClement e Jamal Mayers na 3.ª; e Justin Williams e Eric Staal, no 2.º trio ofensivo.

Como era esperado a seleção evoluiu conforme as partidas iam acontecendo. Vitória burocrática por 3-2 sobre a mediana seleção germânica na estréia, seguido de um ainda pouco inspirado triunfo de 4-2 contra a Noruega e terminando com um já bem representativo 5-4 contra os rivais mais fortes do grupo C, a Eslováquia. 

Já na segunda fase, Bielorússia e Estados Unidos foram rivais que experimentaram as primeiras grandes mostras do poderio canadense. Nas quartas-de-final goleada sobre os suíços (5-1), seguido de 4-1 contra os suecos nas semifinais — lembrando que a seleção das três coroas detinha o título da competição.

As apostas mais arriscadas da dupla mostraram uma boa tarefa. O defensor Corey Murphy, o único "europeu" do grupo foi muito útil, ainda mais por estar acostumado ao espaço generoso do gelo local. O atleta do HIFK de Helsinque foi o melhor jogador da SM-Liiga na última temporada. Apesar disso, sua convocação foi uma surpresa superlativa. Como também era pouco esperado que Jonathan Toews estivesse no grupo que foi à Rússia. Com o título, o prospecto do Chicago Blackhawks se tornou o primeiro canadense a vencer tanto o torneio adulto quando o mundial júnior no mesmo ano. Tanto Murphy, quanto Toews aproveitaram bem a chance e abriram caminho para futuras convocações.

Rick Nash, após uma temporada pífia pelo Columbus Blue Jackets, mostrou o que pode fazer se tiver ao seu lado um bom grupo de atletas. Com Matthew Lombardi e o capitão da esquadra, Shane Doan lhe servindo, Nash foi dominante, especialmente na finalíssima contra a Finlândia.

Os compatriotas de Jari Pekka Kurri perdiam por 3-0. Resolveram agir no período final, quando gols de Kontiola e Miettinen recolocaram a seleção no jogo. O final do prélio prometia ser sufocante para os canadenses, até que o disco parou no taco de Nash. Naquele lance ele justificou o por quê foi eleito o jogador mais valioso da competição. No contra-ataque, mesmo com o defensor Pekka Saravo praticamente pendurando em suas costas, ele patinou rumo a meta finlandesa como uma locomotiva sem freio e empalou Kari Lehtonen. Em poucos segundos, uma amostra brutal de controle de disco, velocidade, força, e frieza para definir.

Na outra extremidade do gelo, Canadá também contou com ótimos valores. Como nossos sempre bem informados leitores sabem, os Canes sequer foram à última pós-temporada da NHL e isso acabou sendo benéfico para a seleção canadense. Assim como na Stanley Cup de 2006, Cam Ward levou a melhor sobre Dwayne Roloson ao ter sido o goleiro escolhido para as partidas decisivas da competição. Ward não chegou a ser brilhante, mas também não comprometeu.

Ao guiarem o Canadá ao seu 24.º título mundial, Yzerman e Murray já colocam seus nomes na lista de prováveis candidatos ao cargo de gerente geral e treinador, respectivamente, da seleção nos Jogos Olímpicos de 2010, que será realizados em Vancouver. Antes disso, em 2008, teremos mais um campeonato mundial bem especial, o que celebrará o 100.º aniversário da IIHF e será realizado nas cidades de Quebec e Halifax. Alguém duvida do bicampeonato?

Finlândia
O mundial da Rússia deixou um sabor agridoce nas bocas dos finlandeses. A seleção fez um bom mundial e acabou sendo responsável pela maior surpresa da competição, ao deixar a Rússia fora da grande final. Mas ao perder o título para o Canadá, a Finlândia passou a deter a tríplice coroa de prata do hóquei mundial: a seleção agora é atual vice-campeã mundial da IIHF, olímpica e da copa do mundo de hóquei.

Finlândia apresentou uma mescla de veteranos, como Jere Lehtinen, Tomi Kallio, Ville Peltonen e Aki Berg, com os jovens Lasse Kukkonen, Tuomo Ruutu e Mikko Koivu. Os comandados de Erkka Westerlund fizeram uma campanha regular, onde golearam os emergentes e perderam para russos e suecos quando podiam. No mata-mata chegaram até as finais após dois confrontos épicos contra os Estados Unidos e a seleção anfitriã.

Na decisão a seleção foi amplamente dominada pelos canadenses, com exceção dos dez minutos finais do terceiro período. A prata foi muito, para o que eles apresentaram na competição.  

Rússia
Os russos nos apresentaram a Khodynka Arena e a Mystichi Arena, dois novos e belos cenários para a prática do hóquei. Vyacheslav Bykov montou uma belíssima seleção, que ganhava e agradava . Tiveram o apoio de uma torcida fanática e fiel. Mas no caminho havia, novamente, os finlandeses. Assim como nos Jogos Olímpicos de Turim, a Finlândia interrompeu o sonho dourado da Rússia.

Buscando um título que venceu pela última vez em 1993, a Rússia teve ao seu dispor uma seleção fortíssima. Na meta, Alexander Eremenko (goleiro menos vazado da competição) mostrou categoria em uma posição que vinha sendo a dor de cabeça do treinador Bykov. Vitali Proshkin, Ilya Nikulin, Andrei Markov, Sergei Gonchar e Vitali Atyushov foram dominantes na linha azul.

Na frente, o tão mencionado trio do Ak Bars Kazan fez miséria também no mundial. Danis Zaripov, Sergei Zinoviev e o melhor jogador de hóquei em solo europeu na momento, Aleksei Morozov, integraram a linha n.º 1 do selecionado. Ilya Kovalchuk, Evgeni Malkin e Alexander Frolov, foi outra troika que dispensa comentários. As opções eram tantas para Bykov, que ele se deu ao luxo de deixar Alexander Ovechkin e Nikolai Kulemin na 4.ª linha.

Esse poderio ofensivo se fez notar. Na fase inicial a Dinamarca foi goleada por 9-1 e a Ucrânia foi empalada por 8-1. Até mesmo a sólida defesa finlandesa foi vazada cinco vezes pelos russos. Na fase seguinte, novas goleadas, dessa vez sobre Itália e Suíça.

Nas quartas-de-final um adversário que sempre complica a vida russa foi superado sem dificuldades. Vitória por 4-0 sobre a República Tcheca, com soberba atuação de Eremenko e Malkin. 

Logo após eliminar os tchecos, uma notícia ruim. Morozov, até então artilheiro da competição, ao lado do sueco Johan Davidsson, estaria de fora das semifinais contra a Finlândia devido a uma contusão no joelho. Os adversários, no entanto, também tinha seu desfalque, com o ótimo defensor Petteri Nummelin sofrendo do mesmo mal que o moscovita.

Malkin parecia disposto a repetir a atuação brilhante que teve contra os tchecos. Com menos de dez minutos um tento do novato do ano na NHL colocava a Rússia na frente. Não deu sequer para festejar a vantagem. Quatro minutos depois, em desvantagem numérica, Jukka Hentunen empatava. Os russos então voltaram a cometer os mesmo erros de um passado bem recente. Excesso de individualismo, preciosismo nas finalizações e indisciplina. Já a Finlândia, dentro de suas limitações, fazia o básico, fechava os espaços e evitava que Nikulin, Gonchar e Markov chutassem. Com Lehtinen, vencedor de vários troféus Selke, grudado em Malkin nos períodos finais, a Rússia agonizava. Um triste final se desenhava a cada contra-ataque finlandês.

Veio a prorrogação e Koivu acabou decidindo tudo. Não foi o capitão do Montreal Canadiens, que recusou o convite de defender sua seleção, e sim seu irmão, o central do Minnesota Wild, Mikko Koivu. Foi um gol agônico, desses que o torcedor tenta interferir no trajeto do disco com os olhos. Finlândia finalista. Rússia eliminada.

A seleção da casa ainda venceria a Suécia na disputa do bronze, mas esse metal não era o desejado. Em 2008 uma missão bem complicada: quebrar o jejum de títulos no território de seu maior rival, o Canadá. Quem sabe se, sem o peso do favoritismo, a pátria mãe chega lá.

Quadrangular da morte
Os quatro times de pior aproveitamento nas duas fase iniciais, integraram o grupo que definiu os dois rebaixados. A Áustria chegou à última rodada precisando vencer a lanterna Ucrânia e torcer para a já salva Letônia derrotar a Noruega. Os austríacos fizeram sua parte ao golear os ucranianos por 8-4, mas os letões, relaxados e sem obrigação alguma de mostrar serviço,foram derrotados pelos noruegueses por 7-4. 

Com isso Ucrânia e Áustria acabaram caindo para a 2.ª divisão do mundial. Eslovênia e França ocuparão essas vagas no mundial do Canadá.

Surpresa
A Itália era tida como provável equipe a ser rebaixada, mas uma vitória histórica contra a Letônia no grupo A, ainda na primeira fase, manteve o time na elite do hóquei. Como Letônia e Itália haviam perdidos seus dois jogos iniciais, a matemática era simples: quem vencesse o confronto direto ficaria com a 3.ª vaga do grupo.

Esse jogo foi, na minha ótica distorcida, o que teve o final mais taquicárdico (?) da competição. Com três minutos por jogar, Christian Borgatello fez 3-2 para a azurra. Um minutos depois Lauris Darzins empatava. Na prorrogação Jason "Il Zorro" Cirone daria a vitória para os italianos. Também, com um apelido desses. E não se esqueçam de assistir, de segunda a s ábado, às 18:10, na Record, Zorro!

Dados do mundial
Partidas realizadas: 56
Gols marcados: 361 (média de 6.4 por partida)
Público presente: 330.708 (média de 5.906)

Oitavas-de-final
Rússia 4-0 República Tcheca
Estados Unidos 4-5 Finlândia
Canadá 5-1 Suíça
Suécia 7-4 Eslováquia

Semifinais
Rússia 1-2 Finlândia
Canadá 4-1 Suécia

Final
Canadá 4-2 Finlândia

Time ideal da imprensa
Kari Lehtonen
Petteri Nummelin - Andrei Markov
Alexei Morozov - Evgeni Malkin - Rick Nash

Prêmios individuais da IIHF
Melhor goleiro: Kari Lehtonen
Melhor defensor: Andrei Markov
Melhor atacante: Aleksei Morozov
Jogador mais valioso: Rick Nash

Elenco campeão
Goleiros: Cam Ward, Dwayne Roloson e Chris Mason.
Defensores: Eric Brewer, Mike Commodore, Dan Hamhuis, Barret Jackman, Cory Murphy, Nick Schultz e Shea Weber.
Atacantes: Colby Armstrong, Mike Cammalleri, Jason Chimera, Shane Doan, Matthew Lombardi, Jamal Mayers, Jay McClement, Rick Nash, Eric Staal, Jordan Staal, Jonathan Toews e Justin Williams.

Eduardo Costa acha a Jenna Haze parecida com a Ana Paula Padrão.
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Rick Nash pode ter penado na temporada 2006-07 da NHL, mas foi um dínamo no mundial. Aqui ele passa pelo capitão finlandês Ville Peltonen.
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Andy Murray + Steve Yzerman = ouro! Será que a dupla estará no comando até os Jogos Olímpicos de Vancouver?
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Ovechkin, Kovalchuk, Malkin... Rússia fez uma campanha fantástica, mas havia a Finlândia no caminho.
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Página publicada em 4 de julho de 2007.