Por: Eduardo Costa

HC Davos

Davos. Sempre que escutamos falar dessa aprazível cidade suíça, logo lembramos daquele encontro anual, que reúne intelectuais, políticos, manifestantes, gente ignorante, gente ainda mais ignorante e Luís Inácio da Silva.

Mas Davos é mais do que a sede de uma cúpula, onde muito se fala e pouco se faz, ela é o lar de uma das instituições de hóquei mais tradicionais do velho continente: o Hockey Club Davos, campeão suíço de 2007.

Liga helvética: uma liga generosa e de muita rivalidade

Como o culto leitor da TheSlot.com.br sabe, a Suíça é um país de proporção geográfica minúscula, mas de uma multiculturalidade única. Por exemplo, enquanto o torcedor do HC Lugano xinga a arbitragem em italiano, o do Fribourg-Gottéron faz o mesmo em francês e o do HC Davos, em alemão.

Poucas ligas do mundo possuem tantos clássicos como a NLA. Obviamente a proximidade geográfica, proporcionada pelo reduzido território mencionado acima, contribui para isso. E nenhuma dessas rivalidades entre equipes vizinhas é tão impressionante quanto a entre o SC Bern e o SC Langnau Tigers. De um lado o time rico da capital Berna (Stadtberner), do outro o modesto time da comunidade rural de Langnau (Emmentaler). E a diferença de tudo isso é tirada no gelo.

Esse clássico teve sua 100ª edição nessa temporada, e, para provar que não estou falando bobagem, ele foi disputado em um estádio de futebol, tendo todos os 40 mil ingressos vendidos. Por incrível que pareça a TheSlot.com.br esteve lá em Berna (na verdade nem chegamos perto da capital suíça naquele dia, apenas baixamos o jogo pela Internet, mas finjam que estivemos lá, não custa nada...) e foi tudo muito intenso.

Esse confronto colaborou um pouco, para que o SC Bern mantivesse, ao final da temporada de hóquei na Europa, a honraria de ser o clube com melhor média de público do velho continente — pela terceira temporada consecutiva.

A Suíça pode até ser um país conhecido por sua neutralidade, mas, quando o assunto é hóquei, a fleuma é deixada de lado. O clássico "italiano" entre Ambri-Piotta e HC Lugano, e o derby "francês", que coloca em lados opostos o Fribourg-Gottéron e o Geneve-Servette, são conhecidos pelos confrontos entre torcedores. Há duas temporadas, uma partida teve que ser interrompida no Les Vernets — arena do Geneve-Servette — por causa de brigas nas arquibancadas.

Mas não é só essa faceta exaltada do torcedor suíço que se sobressai. A liga helvética talvez possua os seguidores mais criativos e participativos do hóquei. Basta uma rápida visita às seções multimídia das páginas dos clubes, ou uma pesquisa simples no YouTube para conferir isso.

Deixando de lado o que acontece fora, e se concentrando agora no que acontece no gelo. A NLA se caracteriza por ser uma liga generosa com atletas que não tiveram uma carreira gloriosa na NHL. Óbvio que há exceções. Igor Larionov, por exemplo, atuou na temporada de 1992-93 pelo HC Lugano. Mas, em linhas gerais, trata-se mesmo de um torneio que conta com muitos "fracassados".

Na recém encerrada edição 2006-07, tivemos belos exemplos disso. Simon Gamache e Christian Dubé foram as peças ofensivas de destaque do SC Bern, segundo colocado na temporada regular e finalista da NLA. O canadense Gamache, de opaca passagem pelo Phoenix Coyotes, foi o artilheiro da liga, com 66 pontos em 44 jogos. Outra figurinha carimbada do time é Sebastien Bordeleau.

O outro finalista, o HC Davos, teve como maior pontuador um velho conhecido: Alexandre Daigle. O atleta mostrou um comprometimento de causar estranheza em que acompanhou sua carreira nos gelos norte-americanos. Entre os companheiros mais conhecidos de Daigle, no elenco da equipe da capital, podemos citar Václav Varada e Josef Marha.

Mas nem só de estrangeiros vive a NLA. O clã Von Arx foi bem representando, com o defensor Jan e o atacante Reto chegando às finais com a camisa do Davos. Jan Von Arx, que começou a temporada suspenso após ser pego por consumo de maconha, voltou no decorrer da mesma e deu segurança ao goleiro Jonas Hiller.

Por falar em goleiros, está aí uma posição em que a Suíça vem se destacando. Dave Aebischer e Martin Gerber ganharão em breve a companhia de Jonas Hiller — que assinou com o St. Louis Blues —, que acabou sendo o protagonista das finais. Marco Bührer, do SC Bern, é outro que tem plenas condições de chegar à mais competitiva das ligas.

Playoffs

Em 2006 o SC Bern fez uma campanha irrepreensível, ficando coma primeira colocação geral. Nos playoffs acabou rodando logo na primeira fase, nas mãos do Kloten Flyers. Em 2005 o melhor time da liga em sua etapa mais longa também havia sido eliminado nas quartas-de-final. O HC Davos então teria que lutar contra essa sina recente. E pegaria logo de cara um rival que sempre lhe complicou a vida.

O ZCC Lions, de Zurique, é uma das organizações que melhor trabalha o talento local, embora também conte com um bom contingente de forasteiros. Era previsto que eles dessem trabalho aos comandados de Arno Del Curto e foi isso que aconteceu. Chegaram a abrir 3-1 na série, até que o goleiro Ari Sulander rompeu os ligamentos. O finlandês estava sendo uma montanha no sapato de Davos até então. Sem ele o time desandou.

Com seu Eisstadion lotado, o Davos venceu o jogo sete por 3-0 e se classificou para às semifinais, onde enfrentaria o Kloten Flyers, que eliminara o HC Lugano, último campeão suíço, em seis cortejos. Infelizmente, o ídolo sloteano Dick Tärnström, principal linha azul do Lugano, ficou pelo caminho.

O SC Bern não teve maiores dificuldades para impor 4-1 na série contra o Geneve-Servette. O mais popular time helvético enfrentaria então o EV Zoug, cuja série contra o Rapperswil Jona Lakers entrou para a história da NLA. Zoug e Rapperswil, pequenas cidades próximas à Zurique, já haviam visto suas respectivas equipes duelando na última pós-temporada. Na oportunidade o Jona Lakers levou a melhor.

Uma rápida olhada nos elencos atuais desses dois clubes e fica difícil não reconhecer Stacy Roest, Mikko Eloranta, Mariusz Czerkawski e o mítico Oleg Petrov. O EV Zoug buscava a vingança, mas o Rapperswil não compartilhava dessa idéia, e venceu os três primeiros confrontos.

Quando todos esperavam a varrida, o jogo 4 acabou indo para o Zoug, através de disputa de pênaltis. Goleadas faraônicas de 6-3 e 5-1 empatariam a série, forçando o jogo 7, na Herti Arena de Zoug, onde uma nova goleada (6-2) favorável ao time de Petrov, completava uma virada que dificilmente será apagada do disco rígido biológico de quem a presenciou.

Mas as aventuras do Kloten Flyers e do EV Zoug acabariam diante dos dois melhores times suíços do momento. Ambas as séries foram vencidas com relativa tranqüilidade em cinco partidas.

Finais

Eram duas certezas: seria uma série longa e ambas as arenas, Eisstadion e Bern Arena, estariam cheias para ver quem sucederia o HC Lugano no topo do hóquei nacional.

Com exceção do jogo 2, vencido pelo SC Bern por 4-0, as outras partidas foram marcadas pelo equilíbrio e grandes atuações dos goleiros Jonas Hiller e Marco Bührer.

Lembram-se de quando falei da força da torcida? Pois bem, o Davos garantiu o mando de gelo por ter somado um ponto a mais que o time de Berna na temporada. Nunca um único ponto fez tanta diferença na NLA. Simplesmente porque quem teve o apoio de sua torcida, prevaleceu. E como o Davos a teve em quatro oportunidades, foi a equipe da pequena localidade, próxima à fronteira com a Áustria, que acabou festejando por último.

O jogo 7 foi de uma tensão singular. Os dois períodos iniciais foram mais dominados pelo medo da derrota do que o desejo da vitória. Em certo momento parecia um embate destinado a uma decisão através de pênaltis. Hiller e Bührer até então, eram espectadores de luxo.

Até que chegou o gol do HC Davos. E veio através de um atleta da quarta linha do time, o canadense, de passaporte suíço, Robin Leblanc. O central Petr Taticek percebeu o avanço livre de Leblanc pela direita. O passe foi na medida, com Leblanc colocando o disco sobre o ombro de Marco Bührer. Em partida acirrada como aquela, foi uma morte súbita para o SC Bern. Mesmo com 15 minutos para buscar o empate, Gamache & cia. não encontraram espaços na ótima defesa armada pelo treinador Arno Del Curto. Davos 1-0. Título merecido para o time mais regular do campeonato.

De quebra vimos Alexander Daigle brilhando. Artilheiro e campeão. Não era isso que se esperava dele?! Pena que a NLA não é a NHL.

Elenco campeão

Goleiro: Jonas Hiller e Florian Kindschi.

Defensores: Jan Von Arx, Vaclav Benak, Andreas Furrer, Gian-Marco Crameri, Benjamin Winkler, Marc Gianola, Pascal Müller, Florian Blatter e Marc Heberlein.

Atacantes: Josef Marha, Zbynek Irgl, Peter Guggisberg, Alexandre Daigle, Reto Von Arx, Michel Riesen, Petr Taticek, Loïc Burkhalter, Andres Ambühl, Sandro Rizzi, Yves Sarault, Robin Leblanc, Marc Wieser, Dino Wieser, Flurin Randegger e André Baumann.

Eduardo Costa gostaria de ver a festa do torcedor suíço ser imitada pelas insossas platéias norte-americanas, nos jogos da NHL.
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Página publicada em 4 de julho de 2007.