Sportivi Ghiaccio Cortina
          
          Há pouco mais de um ano, Turim foi sede dos   Jogos Olímpicos de Inverno. Dentre todas as modalidades do evento o hóquei sobre   o gelo teve um lugar de destaque. Era esperado que esse sucesso fizesse o   esporte ganhar espaço na península.
          
          Infelizmente isso não aconteceu.   Pouco, ou nada, é encontrado sobre hóquei na mídia da bota. É triste ver que os   próprios italianos ignoram sua liga.
          
          Mas nós não somos o Corriere della   Sera, muito menos La Gazzetta dello Sport e nem nos chamamos La Repubblica.   Somos TheSlot.com.br! Aqui respiramos hóquei, sonhamos hóquei e bebemos   Heineken. Então, fazendo justiça à Série "A", fiquem com o informativo sobre o   título do Sportivi Ghiaccio Cortina, campeão italiano após longos 32 anos de   espera.
          
          1975: o ano que finalmente acabou
          Nenhuma outra   instituição venceu mais scudettos nos anos 60 e 70. Duas décadas de domínio   absoluto, que fizeram com que o Sportivi Ghiaccio Cortina se tornasse sinônimo   de hóquei sobre o gelo na Itália nesse período. Antes de 1957 a equipe havia   vencido o campeonato italiano apenas uma vez,  em 1932. De 1957 a 1975   adicionariam mais 14 Copas. Após a bonança, viria uma seca que parecia não ter   mais fim.
          
          A temporada 2006-07 da série "A" tinha um claro favorito desde   seu início: o HC Milano Vipers. A equipe de Milão era o time a ser derrotado não   apenas pelo SG Cortina, mas também pelas outras sete equipes   participantes. Vindo de um pentacampeonato, o time se reforçou com a experiência   do ex-goleiro do Chicago Blackhawks, Steve Passmore, e manteve alguns jogadores   que contribuíram para a grande sequência de títulos, como o veterano, integrante   da seleção azurra, Mario Brian Chitarroni, e o atacante canadense Brett Lysak. 
          
          Além de Chitarroni, mais cinco atletas da equipe foram convocados para   representar a Itália no último Mundial: os defensores Christian Borgatello,   Michele Strazzabosco e Armin Helfer; além dos atacantes Luca Rigoni e Giulio   Scandella. Nenhuma outra agremiação cedeu tantos membros para a azurra na   competição.
          
          Ainda falando sobre os Vipers, é bom notar que o time de   Milão é o único de uma cidade grande da Itália a disputar a liga de hóquei   local. As outras oito equipes são de localidades pequenas nos Alpes italianos,   onde os esportes de inverno contam com relativo apoio.
          
          Bolzano, que   hospeda o HC Bolzano Foxes, é uma dessas localidades. Nenhum time atrai tanta   gente (para os padrões locais) na liga. A arena Palaonda, com capacidade de   pouco mais de sete mil pessoas, talvez seja o lugar onde mais se respira hóquei   em toda a Série "A". Nessa temporada eles eram tidos como as maiores ameaças ao   hexa dos Vipers, ainda mais com o artilheiro Michael Omicioli justificando sua   contratação ao permanecer entre os maiores pontuadores da liga durante toda a   competição. E se o SG Cortina dominou o cenário local nas décadas de 60 e 70, os   vinte anos seguintes assistiram a consolidação do HC Bolzano Foxes como melhor   time italiano, e o fato de não vencer a S érie "A" desde 2000 já impacienta seus   fiéis seguidores.
          
          Citamos os dois maiores obstáculos no caminho do SG   Cortina. Agora é hora de resumir o que a organização fez para poder brigar pelo   título.
          
          O primeiro grande ato foi montar uma linha capaz de espalhar o   caos nos Alpes. Trouxeram do Wilkes Barre/Scranton Penguins, afilhado do   Pittsburgh Penguins na AHL, o ponta Jonathan Kenneth Corupe. Canadense da cidade   de Hamilton, Corupe terminou a temporada regular com 83 pontos (34 gols e 49 assistências) em   apenas 41 partidas. O segundo pontuador do time foi o central, e companheiro de linha   de Corupe, Mike Souza (31 + 43). Completando o trio, o asa direito Nick Deschenes   (26 + 24). Esse último passou de um canadense qualquer na divisão de acesso do   hóquei alemão, à estrela da Série "A". Sem dúvida foi uma linha com alto poder   de destruição — para os padrões italianos, é claro.
          
          Mas o ataque do time   não se resumiu a apenas esse super trio. SG Cortina deu um duro golpe em seus   odiados rivais de Bolzano quando "roubaram" Enrico Chelodi. O atleta é figura   constante em convocações da esquadra azurra. Na outra extremidade do gelo o time   teve a segurança de Jeff Maund. O goleiro canadense, de boa passagem pelo HK   Riga da Letônia, deu poucas chances a seu reserva, devido a sua regularidade e   durabilidade. Bem, pelo menos é o que se leva a crer de um goleiro que   apresentou ótimos números e atuou em mais de 90% dos jogos do time na   temporada.
          
          O único momento de ruptura vivido pelo SG Cortina foi quando o   treinador Doug McKay foi exonerado do cargo por motivos ainda pouco claros — na   verdade foram motivos claros, mas, considerando que eu não consegui descobrir   quais foram exatamente, é melhor dizer que foram motivos obscuros. 
          
          Playoffs
          Todos os três favoritos citados acima se classificaram com   tranqüilidade para os playoffs. Mas a estadia do HC Bolzano na pós-temporada não   durou muito, já que foram eliminados pelo modesto Alleghe Hockey nas   quartas-de-final. Milano Vipers e SG Cortina fizeram suas respectivas lições com   louvor e chegaram à grande final.
          
          A melhor de cinco partidas foi intensa   e contou sempre com casa cheia, tanto no Nuovo Stadio Olímpico de Cortina,   quanto no Palagorà de Milão. 
          
          Cortina venceu o jogo 1 com soberba atuação   do trio Corupe-Souza-Deschenes. Os Vipers dariam o troco duas noites depois.   Chitarroni, o arisco Ryan Savoia e Brett Lysak mostraram que o Milano também   possui uma linha poderosa. Nessa partida a coisa também esquentou, com até   brigas acontecendo —  fato bem raro em se tratando da série "A".
          
          Nesses   dois jogos iniciais sempre o time da casa sobrou. Isso não voltaria a acontecer   nos embates seguintes. O equilíbrio seria a tônica.
          
          A terceira partida de   série, realizada em Cortina, foi espetacular. Martin Wilde, Souza e Corupe   fizeram 3-0 para os locais. Steve Passmore ainda operou alguns milagres,   evitando algo mais embaraçoso. As 2.300 almas que entupiram a arena previam uma   goleada faraônica. Bem, não aconteceu. O time milanês empataria a partida para   espanto geral. Faltando poucos segundos para o final do tempo regulamentar, o   ponta Giulio Scandella cometeu um ato eqüínico (creio que essa palavra sequer   exista, mas o Aurélio anda mesmo precisando de novas expressões), ao ser enviado   para o banco de penalidades por uma interferência tão infantil quanto   desnecessária. 
          
          Para desespero dos milanistas e rejubilo dos locais, Nick   Deschenes capitalizou a chance. Incrível. O time vencia por 3-0, sofreu o empate   e, com 25 segundos para o final de tempo normal, marca o tento que o deixava a   apenas uma vitória do tão sonhado título. 
          
          Jogo 5. Vencer ou vencer para   os Vipers. Primeiro período complicado, de muito estudo e pouca emoção. No   segundo um dos símbolos do time de Milão comete um erro bisonho. Lysak perde o   disco no centro do gelo para o ensaboado Corupe. O craque do SG Cortina dispara   como uma flecha rumo ao gol adversário e depois empala, com precisão cirúrgica,   Steve Passmore.   
          
          Então Lysak, vilão há poucos minutos, empata o   cortejo. Mas a festa da torcida rossoblu dura pouco. O 2.º par defensivo,   Lehtonen-Strazzabosco, faz uma lambança e Giorgio De Bettin, o capitão, recoloca   Cortina na frente. 
          
          Milano mostra brios e começa a maltratar a meta de   Maund. De tanto martelar, o defensor Christian Borgatello empata nos dez minutos   finais, e o que era uma partida tensa e imprevisível ganha ainda mais   dramaticidade quando o tempo normal termina empatado. Prorrogação. Então, mais   uma vez, um atleta milanista comete uma infração estúpida. Chitarroni foi a   besta da vez. A ira da torcida caiu, obviamente, em cima da arbitragem. Ainda   mais porque quem tem Jonathan Kenneth Corupe, tem gol. E se o SG Cortina teve   gol durante sua vantagem numérica, eles tiveram o campeonato. Isso que acontece.   Corupe, sem assistentes, marca um gol esperado há 32 anos. O gol que impediu o   hexa do time de Milão e que deu o 16.º scudetto ao time de Cortina d'Ampezzo. 
          
          Os torcedores do Milano Vipers, enciumados e privados do hexa, acabaram   por furtar o troféu que seria entregue ao campeão. Mas o que não está ao alcance   das mãos milanistas é título de campeão italiano, temporada 2006/07. Esse, é do   SG Cortina! (fiquei uns dez minutos pensando em algo legal para finalizar esse   texto, e o melhor que consegui foi isso! Lamentável..).
          
          Elenco   campeão
          Goleiros: Jeff Maund, Andrea Alberti e Steven   Lacedelli
          Defensores: Luigi Da Corte, Robert Mulick, Luca Zandonella,   Giovanni Boldo, Jeff Dwyer, Cliff Loya e Matt Smith.
          Atacantes: Giorgio De   Bettin, Francesco Adami, Federico Adami, Francesco Alberti, Cristian Menardi,   Enrico Chelodi, Franco Narcisi, Kenny Corupe, Nick Deschenes, Felice Giugliano,   Luca Ansoldi e Mike Souza.
        
![]()  | 
          
Luca Ansoldi e Enrico Chelodi: membros da Azurra e campeões italianos 2007  | 
          
![]()  | 
          
Jonathan Kenneth Corupe, mais valioso jogador da Série A, levanta o troféu estepe: torcida milanista roubou a copa oficial!  | 
          
![]()  | 
          
Torcida do Cortina faz a festa em Milão. Após longa espera, o 16.º scudetto era uma realidade.  |